terça-feira, 28 de dezembro de 2010

PORTUÑOL

De repente não havia mais ninguém. Tudo olvidado no momento do check in. Esta sempre fora minha casa – ou talvez faça só um mês, conto mentalmente com esta nova noção de tempo cujos dias da semana podem também ser encontrados no planetário. E o planetário, este antigo companheiro, não está mais ubicado ao lado da faculdade que também deixei de frequentar.

Sim, faz só um mês, respondo ao policial que, desconfiando deste pelo loiro e dessa pele branca misturadas ao sotaque brasileiro indaga se já tenho minha identidade. No, no la tengo, verdad. Solo voy a tenerla en enero, sem importar-me com a correção gramatical.

Quando saio dali percebo o tempo que cabe dentro de um mês, o que inclui, já te disse, segundos seculares e dias que correm, assim com essa velocidade que só o tempo sabe que tempo tem. E é nessa velocidade de dias que bajo del subte, camino cuatro cuadras hasta que sé yo e paro. É o Brasil que me chama em 140 caracteres na tela do celular. Aquela palavra que sempre acreditamos tão brasileira me invadindo agora, plena 9 de Julio.

Se não obteve resposta, minha desculpa unânime sempre será este sinal inconstante de celulares porteños. Impossível expressar assim, tanta distância e tão pouco espaço, o estranhamento de não extrañarte.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

confesso que sobrevivi

(dizia que era martini, mas tomava era cerveja em copo de geléia que eu sei).

 só essa vontade de respirar - que não envelhece

domingo, 28 de novembro de 2010




estamos também à distância d'uma mentira prescrita em abril..

você não entende a dor que não busco. as agonias do mundo afinam minhas retinas com canivete enquanto me disparo na qualidade de só amar.. amar é político. é nanopolítica. as gramas daqui já estão verdes. d'um tom tão forasteiro no cerrado quanto tua presença em meu quintal. não entendo o que me diz enquanto a febre arde. e sei, abstenho-me da pergunta que insiste em sair de teus dedos. chegarei em dezembro com o atraso semitonado para o cumprimento da promessa que esquecemos em aberto - sem assinatura - em cima daquela mesa. era carnaval e falhamos no adeus.. você não tirou os sapatos e eu resisti na questão. dói o silêncio, mas não suporto as palavras que tenho apontado. parece que sim e o café tá no fogo. requento porque o pó tá no fim. esqueci a distância da cor dos teus olhos. teus gestos souberam calar a ansiedade dos meus braços, mas minha agonia ainda pulsa. corri pro índico d'inhambane, em xai-xai, pra ver se o esquecimento azul daquelas aguas te roubavam um pouco de mim. maldizendo-me, trouxeram de volta o cheiro grosso dos teus olhos, bordados de sal, mas ainda sem cor.

desculpe se o café também salgado já secou nesta folha.


é que minhas ruas já não suportam a ausência dos teus pés.

e eu só vim pra dizer que eu creio na febre, não na razão.





sábado, 27 de novembro de 2010

eu tenho sido censurado
pelo meu espírito,
por uma luz quente que invade o quarto
a janela velha, o vidro velho
tão novo
eu tenho sido censurado pelo galho de árvore que posso ver
deitado na cama
é tão verde que eu quase não acredito
então me levanto e toco as folhas
olho em volta, sinto o ar entrando no peito
nenhum silêncio é páreo pra mim
à partir dessa primeira censura do espírito ao facto de
eu estar atado a cama
eu já não me permito maldizer
abro os ouvidos ainda mais, ouço cada nota de carro passando
como se fossem nunca passar novamente,
não daquela forma
ali, de imediato, uma percepção diferente
eu estou encantado com minha própria existência,
e com a sua também
meu sangue está limpo, do jeito que nasci
a cabeça está com um buraco onde as sondas de luz chegam
diretamente do teu sonho
pra mim

tanta coisa me vem a cabeça quando eu passo na tua rua.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010


Nós, que já não cicatrizávamos e tampouco sabíamos a origem do silêncio, passamos os últimos sete anos professorando sobre anti-dança e conceitos plurais da solidão.


- Tem muita gente indo pra lugar nenhum.
- Brasília saiu de moda no carnaval de 61.
- Não importa. Todo cuidado é pouco quando se trata de vírgulas.

sábado, 6 de novembro de 2010

fall from fallin`



descobri, entre-meios, o retorno.
quem disse isso?
qualquer voz.
meus dedos se confudem, entrelacam o universo.
sou mais um, mas quando estou, sou uno.
agora sei que inexisto ao lado da minha replica.

...a partir disto, deixei de calcular o amor.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Manual de re-encontro

Antes do domingo acabar comemoramos sem saber nosso mais de um ano de nascimento e morte, calendário Pacífico/ Índico. Como não poderia deixar de ser, na nossa mesa uma cidade se construiu rapidamente. Estiquei os braços entre os pequenos prédios erguidos e senti seus desenhos deitarem-se nas minhas mãos. Pedimos mais uma cerveja e uma porção de aspas.

- Amassa a carne para se conter em palavras e traços porque corpo já não possui.
- Os homens livres comem quando têm fome.

                                           (nunca mais nos despedimos)

"Nossotros somos artistas pero cada hombre que trabaja por la ampliacion, aunque sea mental, de sus espacios de vida es un artista", Colectivo Acciones de Arte Chile.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Ratazana e salamandra ou Entre Mojitos e Sangrias


A aeronave já caminhava pela pista, em breve ela ganharia velocidade e Barcelona seria um retrato espremido pela janela do avião. O sono incomodava Luiza. O seu Nessun Dorma estava chegando ao fim. O desejo teria que ser remobilizado. Em menos de 15 horas, os ouvidos voltariam a latejar o clima barulhento e seco de São Paulo.

Barcelona a havia enrolado com uma espécie de fio, uma teia sutil, e a entregou como uma órfã na porta do aeroporto. O regresso era o exercício de desinosar-se. E, seguramente, a terceira baldeação no metrô da Sé às 18h30m não estava ajudando muito. O que ela faria? Enrolar os seus companheiros de viagem subterrânea? Isolar-se num canto da casa desenrolando a si mesma enquanto escuta Lou Reed? Recorreria a Cortázar sob o risco de enrolar-se todavia más? Ou transferiria essa linha infinita para as letras ininterruptamente até ver todo o novelo que a envolvia exposto na folha branca do caderno? Seja como for, aquela realidade não estava disposta a abandoná-la, por mais que o cenário houvesse mudado. Nas primeiras 20 horas de volta em casa, lá estava ela, mergulhada numa mistura de idiomas, trazendo toda Barcelona, Amsterdan ou Berlim para o centro de São Paulo. A memória da língua trazia de volta a memória do corpo. Experiência corporal da língua que está no timbre da voz.

E é por isso que o seu corpo ainda estava lá, jogado no colchão, com o primeiro sol entrando pelas frestas da janela que Silvio acabava de esmerasse como um yoguino para fechar. Sim, não era uma simples janela. Era uma janela que exigia uma performance para ser fechada. E Luiza assistia ao espetáculo deitada, exausta pelo gozo que parecia não ter fim, mesmo que não estivessem mais transando. Sua respiração era leve, e ela parecia poder sentir a linha barcelonesca que caía garoando sob seu corpo florido.

Os pingos batiam no avião. A luz da manhã fazia as coisas parecerem transparentes. São Paulo surgia como uma espada saindo do bucho de um contorcionista engolidor de coisas. Chegar por Guarulhos era a única forma de visualizar as margens da cidade. Até a próxima viagem ela estaria completamente enredada nos entre-nós centrais de uma cidade sem horizonte, impossível de transpassar.

Ao lado do colchão, atravessando a parede, Salomão roia seus cacos de milho e buscava uma conexão com alguém que pudesse lhe conseguir algo mais apetitoso que aquele grão seco com ferragem. Por isso aquele olhar de ratão dramático empenhava-se tanto em mirar Luiza.

(continua...)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

manual de colonização rápida



- me coloniza, please.
- sem sangue, please.
- ainda doador universal?
- enquanto precisarem de tinta, sim. e os caçadores de aventura, sobrinhos do tio patinhas? têm visto essa galhera?
- soube que morreram todos atropelados. se não me engano.
- muito bom. vejo que alguém passou de fase com tantos pontos.
- mas a dircinha última vez que vi há muito tempo atras até pq nao sei se ela morreu atropelada- te mandou um ok.
- diga-lhe que eu cliquei no ok dela. daí teu tela vermelha. felizmente, você sabe...tivemos quorum das cores.
- tudo anexado conforme deliberado na velha assembleia .posso enviar sem compactar?
-pode. recebi. nossa, que eficiência, meo. vou te promover. será uma planta aérea a partir de agora.

(e aí, a tal torta de liquidificador rápida gostosa recheada de verde musgo entra na sala perguntando: se for de graça, ainda é consumo?)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

...

um pequeno momento,
agonizando na crença d'um amor sem raizes


[porque mistério sempre há de pintar por aí]

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Cânticos Corsários

Não cabe a mim culpar aqueles que tinham boa vontade comigo, que tentaram me ajudar. Mas sentia, do fundo do meu universo, uma imensa vontade de cuspir na face dos que se atreveram a me desejar o bem.

Não posso me culpar por ser de trato tão difícil. Em conversas que mantive comigo, reconheci que sou áspero, sem travas na língua e que me indispunha facilmente com as pessoas. Pediam-me bom senso, bons modos, contenção. Respondia com desdém, irreverência e excesso aos apelos da gente de classe média bem comportada, branca e heterossexual, que se orgulha de suas esquizofrenias sociais.



Mas a minha maneira era um aristocrata, mesmo sendo complexo e difícil como a sífilis.

(Atchim memories)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Aquele cheiro passou a ser meu. Eu nem gostava dele, assim como eu não estava gostando de ficar careca. O cabelo caía como se fosse a cabeça alheia e o cheiro forte e azedo de boca de boemia no travesseiro estava agora em mim, me perseguindo nos momentos de mais abundante pureza. Ele havia mijado em mim, esfregamo-nos tanto que eu virei a sua fêmea, para mim mesma. Sua fêmea por radioatividade. Como um acidente nuclear. Que fez com que meus pés crescessem e ficassem maiores que as minhas costas. Eles ocupavam uma área descabida, principalmente para subir degraus e calçar sapatos.

Os joelhos começaram a emitir um forte brilho dourado e um som de engrenagem descansada.

O mato impenetrável era uma floresta negra escondida no meio das duas pernas, e era iluminada somente sob certo ângulo de reflexo dos joelhos.

A percepção aguçava-se e as minúcias se tornavam evidentes texturas indomáveis trocando de lugar. Nesse momento o sangue fervia e o tempo simplesmente me chupou para a rua.

Caí no asfalto, na dureza fria do cordão da calçada. A cabeça tonta foi buscando o foco até recobrar a precisão. Comecei a andar, com as mãos no bolso, ouvindo as vozes dos mendigos. O medo era suave e a madrugada fria, como todo urbanóide só que caminha no meu imaginário.

Gate-se, engate-se e agarre forte na bicicleta.

Esgote-se e agonie

Seria gasto, inválido e passado todo o tempo que gozaste comigo

Se não fosse próspero mesmo que instantâneo.

Das calçadas frias, planas e paralelas fui parar embaixo de uma queda d’água, como uma Alice.

O sono veio chegando. O corpo pedia descanso e comida, optei pela primeira opção.

O cheiro agora não me persegue mais, oportunista ele se mistura com outro cheiro meu para me lembrar que ainda está aqui.

As estrelas caíam devagar. A lentidão do escuro mostrou o tempo passando de verdade, alheio a cronometragem dos relógios. Me encontrei com o tempo, não estava nem esperando que ele chegasse, nem correndo atrás dele. Estávamos sentados um em frente ao outro dividindo uma garrafa de vinho. O tempo é um camarada!

Nisso a casa começou a ruir e desmoronar aos poucos. Recolhi o que pude e saí correndo pela janela. O tsunami batia na porta e o piado interrompido dos frangos morrendo afogados davam a trilha para a minha agonia.

Não sabia como fugir. A casa prestes a desmoronar e eu estava sentada na janela do banheiro.

O refinamento da inspiração tinha simplesmente me abandonado. Estava sob a catarse cega e anestesiada dos sentimentos represados.

Abriria as comportas é verdade, mas não seria agora. Quando o enforcamento estivesse prestes a acontecer, faria inundar toda a praça pública, livrando carrascos e enforcados do desespero de matar e morrer. E o público teria sua morbidez curiosa lavada para sempre.

O cheiro desapareceu. Faz dois dias que ele não se manifesta.

Juntei as espadas e resolvi ajudar o acaso. Hoje é Dia de São Jorge e o vento anuncia guerra. A chuva passa ilesa sob a minha cabeça, apenas alguns respingos resfriam meu corpo incandescente. Poderia furar a terra, derretendo todo o caminho até o inferno, onde o diabo vermelho me colocaria em sua cama, presa, com outros diabos e diabas, assando até estralar a pele. O diabo de olhar agaviado, com os cachos pendendo na testa, não teria a menor piedade e colocaria no espeto o meu talento para boa moça, fazendo-me suplicar por minha malícia, me tornando uma aliada da carne e dos prazeres infernais.

Tenho que ir, chove, chove intensamente. O cheiro de terra molhada já invade as folhas. É hora! É hora de seguir o caminho.

Inaugurado o momento do charuto: de agora em diante é só prazer! Não importa que toque Sandra de Sá no bar ou que chova de inundar o meu quarto. Está decidido, o prazer acima de tudo. Para começar, uma cachaça! A cachaça anestesiava a boca. Os lábios absorviam o álcool e acreditavam que não existiam, que estavam independentes desse corpo, com vida própria, livres, sem nome, sem dono, adquiriram seu próprio coração, um lábio que sente por si só, e decide o seu caminho.

O princípio do prazer tormentou minha alma e os meus órgãos despertaram como uma cidade varrida pela catástrofe. A tristeza e o prenuncio da saudade faziam salivar a boca. O fim fez com que eu vomitasse aos soluços.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

domingo, 19 de setembro de 2010

A Prostituta Violinista em: Peur de la mort

Para ouvir: William S. Burroughs - Tain't no sin (Tom Waits Music)



Photo: Duas Putas (1928), Christian Schad

...e escrevo isso porque até nós, putas de bucetas alargadas e de olhos secos, sofremos diante do abandono de nossos senhores

Sigamos então nossa boring visita a este mundinho de merda. Faça-me um favor: ressurja das poças enlamaçadas pelo tempo que já se foi e cansou de morrer; espere algo entre a forca e o sorriso e inicie pela questão: é preciso respirar? Há o horizonte e há o sexo, não há? E chegará o dia em que nos cansaremos da morte, asesino? Contudo me poupe das estúpidas respuestas. Agite a cinza da estrela, retire-a do seu eterno crepúsculo, de-lhe ar rarefeito, ponha-lhe um vermelho de coisa viva, do mais negro sabor, da mais rubra subversão. Sigamos por certas ruas quase ermas (agora somos dois, ongle et viande), abarrotadas de estrume e mendigos, e através da insípida umidade e do distinto calafrio, gritemos como cães em cio: Ave César!
Vá, procure a ferida mais longínqua, a mais dolorida, procure-a por noites e madrugadas e se esqueça das respuestas, meu prostituée de olhos-verdade, de face trêmula esquartejada pelo tempo.

...um pálido rosto acordado à luz da lua chora Corinto, enquanto Afrodite nos ordena a prática da prostituição religiosa

Reveja e retire o mofo da moral de nossas fotos antigas, proteja o agora e se acovarde diante dos outros tempos; esqueça o futuro: ele não existe - enquanto os dedos enforcam aquilo que me distingue das fêmeas e dos machos. Há a apenas o reflexo constante e brutal do passado pungente, há apenas o passado, e o presente, sobre o qual caminhamos vacilantes sobre as cinzas do passado, a poeira do tempo. Fuja da dor imensa e ululante e se cubra de mantos sagrados, cinja sua alma e forje seu respeito calçando-os sobre o meu penar. Faça a morte regurgitar, faça-a parar, faça-a morte voltar ao passado onde era vida, faça a sorrir os sorrisos infantes e belos, e retire de mim para sempre a angústia da morte porvir, porque todas as outras experimentei ao teu lado. Mas ainda haverão de vir novas mortes, novos pesares, novas lágrimas, e eu me renovarei na tristeza de cada morte, pois sou feito, a fogo e ferro, de caos e ordem.

...e de noites indormidas em hotéis baratos

Pois então sigamos a cumprir nossa visita. Realizemos o desejo alheio e vamos dar aos vampiros um tanto de nossa desgraça. Vamos rezar perante a eles nossas intimidades e vamos procurar fazer bem feito, pois não queremos decepcionar ninguém, certo? Correto. O fogo e o ferro. Todos a espera da lâmina que almeja o corte da carne flácida, a espera da chama que a tudo renova. Queimaram-nos a testa, agora é tempo de nos queimarem por inteiro! Porque só o fogo nos salvará, e só a lâmina poderá nos privar, novamente, da morte estúpida. Vejo a pomba, suja, suja pomba. Sobre você, empoleirada sobre teu ombro esquerdo, a lhe dizer absurdos de um imbecil assexuado que não te ama, que não te quer e não se apraz de ti, porque não existe.
Correto?
Certo.

...as mulheres rogam por ti querido Macau;
Ouça o canto das sereias ao infinito: mira a vontade do amor? Sucumba a minha língua adestrada, que te acaricia as vontades.


Ausculte todas as frases e me coloque em sintonia para receber todas as revoltas porque eu sim entendo todo o mal e subjugo o entendimento. Não preciso mais caminhar: tenho tuas palavras, e elas devem me bastar. Estúpidas palavras, porém. Já as ouvi anteriormente, em sonho. Eram proferidas pela pomba, de asas brancas, mas que na verdade não tinha cores, pois não havia asas. A pomba era uma farsa, que ressoava em uníssono de mãos dadas a grande boca ignorante do mundo. Ela ressoa em você, e agora eu não luto mais contra a morte. Espero-a e vejo away de mim mesmo, tentando olhar pra um dentro que não existe, que devo me bastar a você. Sobretudo, porque as chamas nos salvarão da vergonha alheia, pintada nos dentes espelhados dos vampiros que nos cercam.

...por entretanto, só o coito nos foi justo

Eu vejo distante, pois tudo conheço com estes olhos que agora te miram: sei do teu apreço e sei da tua covardia - e percorro tuas noitadas regadas a jasmin e a porra semi-quente. Mas te perdoo homem, pois é apenas um homem. Tu também és feito de carne e de 480 réis, e sofre de coisas que o coração sente. E tens um órgão chamado caráter, que tudo te nega. A felicidade não existe, homem meu: existe a morte e a junção de dois termos sobre a cama. E se elas se chamam vida no passado, corredor no presente, certeza no futuro, temos que nos conformar e comprar os ingressos do circo. Hoje é noite de palhaço e sei eu que a morte vira pelo corredor da vida, acorrentada a seu vestido soturno, flutuando acima das partículas do tempo e de ceifadeira em mãos, lhe convidando para tomar um chá. Eu na sala ao lado, estarei drunked again, de pernas abertas, a lhe esperar. Poderá você recusar qualquer uma dos dois termos?
Não, certo?
Correto.

Pois então lhe direi o que é preciso ser dito: a morte mora em você e em mim. Mora em todos nós. Não me olhes de cima e me julgue em sentenças únicas, em espaços temporais. Estarei sempre ao teu lado, como matéria prima do universo, Sempre. Um dia seremos flor e raiz, outro planeta e satélite. Um dia seremos infelizes, noutros também. A gloriosa certeza é que um dia morreremos, e voltaremos a ser o suspiro da Putrefação. Beijaremos sua manta, e estaremos quites, provisoriamente, com a fome dos vampiros. Perceba o escuro que nós abraça a cada segundo que se esvai pelos dedos da penumbra do tempo: o deus da pomba is a gambler, e ele sempre esteve entediado. Eu nunca te quis amor, assim como ele nunca nos quis vivo.
Não somos eternos, certo?
Correto.

Ponha seu terno e descalce o pé, mate a pomba e desça do pedestal, todo homem é ignorante, não sabe nada, da vida não conhece o sentido, e eu já não me basto a você, correção: eu não me basto ao mundo. Ousarei eu agora a chamar a Salamandra do fogo da chama, acordarei eu a vida que reflete seus olhos de água de mar, mas não correrei contra o tempo. Sentarei na rede da desistência e balançarei para o ‘Jamais’ a sorte da dor, me entregarei novamente aos meus desejos e aos meus questionamentos, responderei todas as perguntas que forem feitas a mim e passarei manteiga no pão. Tomarei café feito pela secretária do chefe porque ele gosta de me ver submisso. Tentarei ao máximo entregar tudo o que puder sobre isto ou aquilo que se passa dentro e fora do que sou. Não magoarei ninguém, mas meu deus, devo ser eu temente a todos como sou a ti? Serei uma felicidade continua para aqueles que me querem bem, que me querem feliz? Tudo bem: rogarei pela felicidade, mesmo desconfiando dessa merda toda e destacarei, se me atrever, e se ousar, e se vier a me engrandecer, todas as qualidades do mundo, e direi que elas refletem você. Agora, poderei eu dizer que acredito em tudo o que digo? Não sou eu o maior mentiroso dos mentirosos, não estou aqui eu neste pedaço de terra, sobre pés encardidos, carregando em uma alma fraca e insolente, o pedido de todos os clamores? Tenho que ser ousado, pois já não basto a mim mesmo. E mesmo que tentasse ouvir tua pomba a defecar sobre o poleiro e a dizer coisas belas, posso eu ignorar a inexistência da felicidade como você tenta vende-la pra mim?
Devo eu continuar a atender a sede do meu corpo santo pelo leite que jorra do seu mastro imaculado?
Seria querer muito pedir permissão para que eu possa continuar a me tocar desenfreadamente, enquanto visualizo tua nuca suada?
Explique essas coisas aos meus absurdos.

...

Ponho-me agora a abraçar o universo e me retiro para o Desconhecido
‘porque só ele é verdade, disse-me Eliot’
ando em sapatos que brilham e meu terno está engomado
deixo um pouco de luz entrar em minha cabeça,
Sorrio com malícia e descrença, olho para baixo (sempre se deve ignorar o firmamento!)
e desfiro um pedido: deixa-me.

..en effet, o que me deixa mais triste é o fato de ser feliz

terça-feira, 24 de agosto de 2010

meo eucípedes,

Antes de procrastinar sobre a aplicação de recursos naturais em rasos planos fictícios de participação, sinto-me na obrigação de te dar satisfação. Já disse que não sou mulher de comprar concordância, mesmo assim, te ofereço dois dedos daquele singular conhaque Yawalapeti para que durante o esclarecimento você possa repartir as exclamações em pequeníssimos pontos finais.
Primeiro reitero minha ponderação sobre as deliberações orçamentárias. Prefiro me abster da alteração da redação para a construção do novo estacionamento de triciclos, isso porque concordo com você sobre a loucura, tanto que já estou há seis anos sem dormir. Em segundo (s) informo que mesmo após ter sido punida pela coligação continuo fiel à inversão de tempos verbais. Partilho do entendimento que institucionaliza as mudanças climáticas. Até entendo que a seqüência de falta de chuvas torne inoperante qualquer árvore que se preze, entretanto não creio que todas as tulipas sejam de plástico. Por último admito que o tempo seco e as pautas suprapartidárias me converteram em pura calda de tampar buraco.  
Passo o dia plantando notícias não renováveis e nas horas vagas, tampo o Sol com a peneira. Longe de mim lamentar até porque meu direcionamento é propositivo. Proponho, portanto, a retirada da estrofe desértica e sua imediata substituição pelo trecho no qual ursos polares que riem altíssimo são elevados à condição de cidadãos.
Se me permite mais uma, e a última, condensação, sugiro que caso os tijolos te pesarem as pernas durante a flutuação não hesite em desamarrar as cordas, pois, o último verso sempre pode esperar mais um pouco.

escafandrista: @4rthr

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

LUA NOVA

O centro da cidade tá escurecendo. Mas tu entende? Entende mesmo? E quando eu vim parar aqui eu era lua cheia.
Tudo que eu disse-quero, eu tive.
Tudo que toquei foi ouro;
tudo que olhei foi meu.

Olha agora essa lua disforme surgindo na nuvem.

Nem cheia, nem meia, nem nova.
Não saberia dizer, lua morna.

Mas tu entende porquê não dá certo? Eu era agora, desperta, desesperada. Puro fogo. Mas de repente fui minguando nessa obsessão de ser tudo como se as partes fossem caindo devagar, mas rapidamente. Como quebrasse um vaso de cristal puro e, conferindo os restos, só houvesse vidro.

E eu perdi meu nome
meu norte
meu nada.

Entende? Tudo nessa velocidade atemporal, das coisas velozes que passam em câmera lenta. Assim, semi-nua
meia-lua.

Fui perdendo cabelo
perdendo tesão
perdendo dinheiro.

Pendendo tudo - perdendo tu.

Mas deixa, está escurecendo e tens que voltar pra casa. Tens que enviar aquela carta prometida para ella, em que falará que estoy bien y no te olvidaré, usando as parcas palavras do teu portunhol. Teu desejo é assinar a carta dizendo saudades!, mas para que ela te entenda, dirá apenas te quiero! Vai. Anoitece. A distância não permite desculpas, não perdoa atraso. E tua sombra, alta e esguia, como só a sombra dos homens baixos e opulentos se permite ser, se distancia, a passo largo.

No caminho, aquela dor de ter me feito triste se confunde em náusea com essa coisa de verdade que tu sente. Entende porque não deu certo? Não te preocupes, a escuridão do centro me protege ainda. E ela quem me ouvirá dizer, de mãos dadas com o vento, que hoje eu sou lua nova. (Mas acho que prefiro mesmo que tu caminhe as próximas quadras com esse remorso de mim, que perca o sono em desculpa). Que entendas estes pequenos milagres: o centro está escurecendo ao meu redor.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

for no one


larguei dois dedos de meu corpo em suas mãos quando lhe disse foda-se.

depois corri pra rua de olhos fechados, de modo que a lágrima escorresse pra dentro.



sexta-feira, 23 de julho de 2010

32ª счастье


Foto: Júnior Silgueiro


Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel
Uma mulher, uma beleza que me aconteceu
Uma Gaia, que esfregou sua pele de ouro marrom contra meu eu
Me falou que o mal é bom e o bem cruel

{Enquanto os pelos dessa deusa tremem ao vento ateu...}

Disse ela que com alguns homens foi feliz, com outros foi mulher
Assim como eu
Gritou que tem muito ódio no coração, que tem dado muito amor
E espalhado muito prazer e muita dor

Mas ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar
Porque ela vai ser o que quis, inventando um lugar
E eu corri para o violão, num lamento, e a manhã nasceu azul

Como é bom poder tocar um instrumento, um membro.

O que eu mais gosto das descobertas da simplicidade sensível é que ela faz o tempo derreter sem agonia. Ele só não pára, porque ainda há uma tríade hipócrita que se preocupa em não deixar que ele pare. Hipócrita é um pouco abusado, como diriam os bons costumes. Falsificador, bandido, e oportunista. Não, eu não estou a falar dos políticos contemporâneos. Eu estou falando sobre a revolta do superego, esse sujeito social que faz com que a alma e o corpo não possam condizer.

A revolução é importante, porra! Porra! Porra! Porra! Porra é um senso de verdade. Orgasmo feminino é uma falsificação desse senso. Basta comparar etimológica e sensivelmente. O que seria o feminino de porra? Porra! Sim a porra, apesar de não ser um desígnio feminino é uma palavra feminina. Ou seja, as suas mulheres não falam: vem lamber a minha porra!? Mentira, falam sim. Nada como fingir que é dor a dor que deveras sente! Viva o poeta de vários nomes! Poeta ator. Poetaor. Poetaor, está aí uma palavra que não existe, e que pode designar que você escreve ao atuar o sentimento que você captou. Nada como chorar com lágrimas pulando dos olhos, caindo pesadas nas maçãs da bochecha corada, estimulada, ensangüentada do choro que vem do fundo do corpo. Viva o Arnaldo Antunes! Aquele que lem bra q eu qebro o m a x i m o q u e e u POSSO o |limite da lingüística aplicada.! E o orgasmo e a porra? O suquinho e a porra? O cremosinho e a porra? Se eu tivesse um restaurante teria pratos com esses nomes: tagliarini ao cremosinho, com porra salpicada ao cu. Nada como ter escola!

sábado, 17 de julho de 2010

jobim

tirando o trabalho ando assim cantando que o tempo é triste e que você é o que resiste ao desespero e a solidão.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Jamais vestira confusões em suas palavras.
O silêncio sempre fora maior
que qualquer imposição de um sentido próprio.

(Para o respeitar do instante
mantém-se
a mesma meditação cautelosa
sobre o dividir-se.

É como compreender
que para estar junto é preciso
unir’sem desordem.)

Seus olhos caminhavam cheios de encontro.
No cruzar de sua permissão
despida, desorientava julgamentos excessivos.
Não há nada capaz de escapar

o vazio

entre o foco e a claridade
de uma retina entregue. (Aqui cores
banham emoções sem dor, abrem
os braços e desfazem enganos
sozinhos.

Não há
nada em si que se deixe espalhar

sem estar inteiro.)

- Por favor,
pedaços pequenos
só serão restos se deixados
largados
ao peso
do tempo. (Já não sabemos mais
como voltar atrás.)

sábado, 26 de junho de 2010

Reza para Santa Barbara de Laurent




Santa Barbara de Laurent
protetora das bibas loosho poderosas
dai-nos o dom da beleza e do poder
clareie-nos a laser e fassa com que caminhemos como Bundchen
torne nossos cabelos inquebraveis e sedosos
nos proteja das raxas que insistem em dar close na gente
e nos agracie com varios bophys escandalo

fassa nossa pele brilhar com gliter
e que nossa maquiagem nunca borre
que nosso salto nunca quebre
e que nossa bunda nunca murche

peco ainda, oh Santa Barbara de Laurent
que vc continue a transformar os guapos mais lindos do mundo
em bissexuais vorazes e sedentos por novidades
de nos o dom de dancar vogue perfeitamente
e de dublar i will survive com charme e glamour

em nome de madonna, bette davis
e lady gaga
amen

Homenagem a darling das xabis phynas e ricas, Barbara Rosa.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Yellowdog

Cúando o vi pulando amarelinha no teto suspeitei de pronto que o boato de outrora poderia enfim fazer sentido. Entretanto, antes que o suspiro se confirmasse nossos óleos se derreteram. Sob a água que caía daqueles três pés a fritura liquefez em nuas nuvens que iam e vinham. Enquanto a moldura tomava forma de bronze de busto relembrei nossas ligações saturadas. Antes da quarta ponte se edificar em carbono, moléculas de hidrogênio construíram alvéolos em perspectiva menor dentro de mim.

Eles estavam certos. A gravidade não coincide com os fatos.



- Mas falta alguma coisa.
- Falta. O caderninho vermelho, as páginas em branco.
- Quero chover sem parar na sua janela.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

rumorejando

apesar de tudo
a paz do mudo
não pede palavra

apesar da língua
não pode sentir
gosto na maçã

apesar do pesar
seus olhos brilharam
estatelados como um susto

sábado, 29 de maio de 2010

where she belongs


Partir. No próximo trem ao amanhecer. Grudada na beira da janela, os olhos vidrados de paisagem revirada em despedida - movendo-se velozmente sobre o abandono - enquanto ela e outros seguem os pontos de fuga - desenhados no céu para um novo sentido qualquer. O que importa é o movimento. O vento trazendo a certeza da distância, deslocando os olhos por uma nova natureza nativa, a vegetação revelando aos poucos sensações desgarradas da terra do clima da estação da despedida.
Mas como poderia partir? Com que passos? Júlia não era capaz nem de calçar os próprios sapatos sozinha. Onde encontraria músculos ossos pernas chão para seguir? De que adiantaria arquitetar novos sonhos se o corpo aprisionado jamais a levaria dali?
No amanhecer, no próximo trem, o primeiro. Como vencer os limites da inércia de sua própria matéria bruta? Henrique.. Henrique, querido.. É preciso seguir, nos devemos este último encontro. Eu preciso deixá-lo primeiro para depois partir. A minha alma é uma ferida alerta, tenho vestido-a no avesso da carne, na superfície mais que o fora. É preciso curar e seguir. Romper os pontos em um novo caminho para nunca mais sangrar.


*****





and it won't be long


*****

quinta-feira, 27 de maio de 2010

"do chão já me fiz sócia", escreveu [no comprimento das minhas costas] antes de desaparecer em la paz.

sábado, 22 de maio de 2010

no retorno a cidade das 13 pessoas eu me encontrei sem acentos. seco como uma folha. perdido como vento. azul como o tempo. perto como o longe. cruz.




...choram, mas nao choram a morte da vida: apenas derramam lagrimas.
dancam os corpos, mas nao o fazem nus.
tocam instrumentos, mas nao encostam o ouvido na alma.
cantam, mas nao sao passaros.
eu quero em mim um muito de estupidez e arrogancia, e um tanto de boa saude.
eu tenho em mim o sonho, porque o estranho homem que toca, chora e danca usa a realidade como muleta de seus deficientes sentidos.
eu quero a magica, a mentira, o verso.
eu sinto aversao a exatidao do pratico, do agir.
os tristes homens vivem a merce das regras, dos efeitos, do palpavel.
eu quero so o sonho, so o sonho, aquele la de longe que nao me pede acento.
eu e minhas colheres, guardanapos, facas e mesas.
que nao me pedem a existencia: so me exigem a vazao do que carrego no coracao.
eu nao tenho paredes, muros, bandeiras, selos, cadeiras, limites, fronteiras. Paises e nacoes nao existem em mim.
nem acentos.
e eu toco a vida com o coracao colado ao invisivel.

yo te quiero, vida.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

da série poemas secos

quero um poema açoite
tão noite

como esse silêncio
tão seco
quanto esse sangue
que ficou grudado
na calçada

tão seco quanto o ar
que estala
chicote
de couro crú

eletricidade corre
solta
outro estalar rompe
a manhã

são passos
pisando sobre as folhas
que caem out
onais
feito pele de árvore

pé de vento
na folia da cor
rida
pela estra
da qu
e nã
o t
em
f
im

quarta-feira, 19 de maio de 2010

9999 motivos para você não acordar em certas manhãs

hoje frio. calmamente relaxo os músculos. com os dentes afiados corto um naco de sua carne. a língua saliva. cuspo sobre o chão forrado de folhas secas rubras da sete copas em frente. sete vezes amaldiçôo a manhã. névoa cobrindo os olhos estatelados.
pronto. sacramentado. o suco de uva escorre entrementes. não, parece vinho. púrpura pura. uma purinha, que ninguém é de ferro. só os dentes e os nervos. que ninguém é herói nessa porra. só os dementes contróem castelos gaudianos na paisagem outonal num fim de manhã qualquer. a nota pode ser dó. o tom. pode ser atonal? só a música para consolar os anjos que caem estrada afora. um mar de anjos bêbados. isso que dá virar humano num momento desses. só a hora pode determinar o badalar desses sinos. você ouve?

terça-feira, 18 de maio de 2010

when Julia goes

para se estar perdido não é preciso partir. não é necessário isolamento ou a distância de tudo que nos dê um nome e aponte caminhos pelos quais passamos com segurança. eu estou perdida e isto é tão claro quanto difusa é a confusão que cavei em mim. tenho um abismo gigante no meio do peito, e quando me perco por aqui não há eco seguro o bastante que me faça replicar algum encontro iluminado. você, Henrique, você, ainda insistindo em pisar entre as montanhas do meu corpo ilhado, acreditando estar neste contato reanimando-o em vida. você, Henrique, você, como uma faísca translúcida entre os rochedos escuros, que insistemente anuncia a mudança das fases sentidas no tempo aqui do fundo. você, que não desiste, não abandona o próprio abandono que já existe em estar aqui. por favor, não insista mais. esse é o desengano que lhe peço, é este o menor tamanho da minha covardia. eu não tenho mais forças para cravar os dedos as unhas o corpo em parede ou qualquer contato vão que exista, já não sei nada além dessa inércia que habita a pouca força que há em mim. se te escrevo, Henrique, querido, é por tentar salvá-lo de um esforço desnecessário, uma luta irremediavelmente morta e já vencida. siga o seu caminho, vá. o seu corpo é saudável e jovem como o meu jamais foi. não desperdice os sonhos de um raro coração que dispara além da vida, além de mim, além de nós. não se esqueça de você; não se esqueça em mim. deixe-me aprender com os cantos fugidíos dos pássaros renegados que às vezes me visitam por entre as noites; deixe-me com o meu silêncio vazio. os meus olhos ainda não aprenderam a encarar a beleza que persiste em estarmos aqui. este é o tamanho mais profundo da minha escuridão, Henrique. uma densa tempestade, que reluta em inundar trovoadas e dissipar o que pode deste bosque perdido que há no meu peito. nenhuma árvore jamais frutificou neste vale seco (não se engane pelo colorido das flores). não há sequer um rio de fio de vida que transponha essa queda invertida e fechada de onde estou. não insista, querido. eu não posso condená-lo ao meu estancar dos dias. já não podemos ser.





************

domingo, 16 de maio de 2010

...



...silente,
con el cargamento del mundo en mis ombros,
seguiré mi ruta olvidándome de que
hasta el momento
he tenido poco menos que el ruido de tus colores,
una sonrisa rota
y dos calles paceñas en el bolsillo.




[yo, que acostumbrada estaba a diseñar palabras en tus silencios...]



[imagen congelada por]

::Jorge Ferrufino y su mirada hacia el color del tiempo::

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Epi Fânia

- Olha o velinho comendo uma goiaba enorme!

Ela me disse isso como se comentasse sobre o aumento da tarifa taximétrica.

Linda e breve, ela interrompia a estereotipia da rotina deplorável com as suas percepções insólitas. A naturalidade em descobrir a poética da exatidão mínima me enchiam de tesão. Quanto mais ingênuo, mais transcendental era o sexo, mais eu me transformava em algo que não era eu. Não pude mais aturar e, a partir desse dia, eu a apelidei de Epifania.

O trovão parecia anunciar a guerra,

algo desmoronava

próximo Dali.

O medo pervertido subia pelo lençol que mal tocava os pêlos

E o corpo que mal tocava os pêlos, desmembrava flutuante,

Espectrando o ego


Na volta para casa, figuras míticas, putas, trabalhadores, apostadores. Todos seguiam o cheiro da noite, cada um no seu rastro. Eram onze horas. Ainda não é madrugada e o breu ainda reflete os olhos cansados de crianças sonolentas. Em breve, ele será o desenho das pupilas desejantes da boemia que se espalha por toda cidade. A boca da noite engolia os corpos, nos tornando um bolo estomacal antes de transformar-nos em merdas arrastando-se pelas artérias de São Paulo iluminada pelo lusco-fusco.

- Merda ao sol é um espetáculo quase tão lindo e raro quanto Aurora Boreal!

Eu tentava escovar os dentes, livrar a boca do bouquet da ressaca, enquanto ela refletia sobre o raio de sol exato que transformava o marrom da merda em um tipo de dourado escuro, cobre.

sábado, 8 de maio de 2010

jardim voador

para Manoel de Barros e os meninos do mato



i.





ii.


o menino do mato
certa vez disse:

.............
"sapo é um pedaço de chão que pula"


.........................
achei graça



pra mim,
sapo é uma pedra que pula


quer dizer então que

pedra é um pedaço de chão?


sempre achei

que sapo fosse pedra


que na beira do rio tanto ficou a se banhar


que sonhou brincar de pular sobre as águas


e comer as moscas que lhe vinham pousar



pensando bem
agora acho

que sapo é mesmo pedaço de chão



que também é pedra
beira de rio

pingo d'água
e mosca no ar


que é só saber

a medida do sonho

para sentir

no dia

ser todo um jardim

que pode voar

segunda-feira, 3 de maio de 2010

o aprendiz de significações ou palavras regadas ao vento

para Manoel de Barros




despertou bem cedo


]]]....como a manhã.... [[[
]]].....a sonhar dia..... .[[[
]]]...além das janelas...[[[


e soprou decidido:
...............................vou cultivar palavras
......................................................(semeá-las em jardins
....................................................................de silêncios
....................................................................até criarem
........................................................................ ..formas
......................................................................... ...cores
................................................................... e crescerem
.............................................................................. vida
.................................................................... .. .em frutos)


Aprendera com o menino do mato
que as palavras cabiam melhor

quando sentidas soltas no campo

com os pés lavrados marrom de terra
com brilho de sol
dia todo
para levantar
de novo
enxugando peso-gota de sereno


banho só de chuva
do lado de fora
em pleno canteiro


violetas, petúnias, girassóis


junto aos animais menores
perto do coração da pedra


(palavras gostam de dormir
aos olhos cheios das estrelas
que sempre abraçam a via-láctea)




Agora, assim, sabia
jamais conheceria palavra fechada
que não guardasse princípio de gosto
sem flor, sem broto
sem estações por alegrar


palavras

pelo jardim

regadas ao vento


espalhar suas letras

formar novas palavras

romper cascas sem feridas

tratar com o verde


bicos de pássaros

sapos grilos cigarras

abelhas e um beija-flor



palavras cultivadas

soltas no jardim

nunca mais esconderiam

amor maior que a dor

no desmanchar das tardes

Tupi.

There is no question.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Escorriam-lhe sentidos por entre as formas. Despertara agora em um sonho onde as emoções se amontoavam em densidades das quais se criavam em corpos.

Vestiu-se do seu, subitamente maravilhado com a descoberta de sua complexidade múltipla infinita de dois - divisível das mesmas raízes arredondadas de resultados contínuos, fractais e perfeitos.


No mesmo instante em que se apossara dessa consciência de ser espalhado em pulsão, adquiriu desníveis vibratórios, camadas emanadas em frequências alternáveis que se acumulavam e propagavam em peso e cor.


Sentiu olhos para brincar de fragmentar dimensões superficiais e reencontrar segredos menores, enquanto passeava entre as lembranças apreendidas como movimentos naturais de sua mais nova consistência.

Já havia esquecido de todos os detalhes de abrir-se eterno em si, quando se percebeu incerto de tudo que poderia revelar-se num espaço fechado de corpo tomado pela trajetória de existir.


Decidiu mergulhar em sua aventura, sem restrições confusas por replicar memórias que só caberiam aos fatos contados.

Tinha um universo a experimentar. Ilimitada-mente.

domingo, 25 de abril de 2010

o professor de vermelhidão

É interessante dizer, antes de tudo, que estávamos em local extremamente fechado. Portas cerradas e paredes ingratas descartavam qualquer possibilidade de amplitude de point of view. Importante informar, também, que valíamos aproximadamente nada na bolsa de valores da época.

Éramos, certamente, a excelência frutada do absoluto descaso aos grandes sucessos. Porém, persistíamos, tentando locar a banca mais evidente da avenida principal enquanto senhoritas passeavam com peludos cachorrinhos pelas calçadas. No fundo, queríamos a elevação do índice de suicídios pela escada de serviço.

Quando tudo aconteceu falavam eles de buracos, doutores escritores, capitais norte-americanas e pactos medicinais. E nós vestíamos camisas vermelhas sobrepostas. Ao invés de calças, calçadas alugadas por cachorrinhos peludos. Recordo-me que fingíamos não saber onde estávamos.
Pensei em sugerir que doássemos nosso sangue para qualquer movimento de resistência pacífica - queria ensinar um pouquinho do que sei, e por isso mesmo dei por mim que não poderia sugerir o que equivalente no seu conto de passarinhos não tem.

Acenei para ver "quão vermelho eram seus lábios curtos e de repente roubar um pouco do batom para meu próprio disfarce".

- tu não vai ver resenhas de livros, dirigidos ao público jovem do Brasil. Para os leitores adultos, faltam um pouquinho de humor.

- leitores ópticos não opinam sobre a moda.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Young & Hungry Pôneis II



Olá Criançada,

Como vocês estão pequeninos? Felizes, perturbados e sorridentes como devem ser todas as Crianças Mais Sortudas, Sujas e Sacanas do Mundo? Muito bem pirralhos insuportáveis, muito bem. Hoje eu vou lhes contar como transcorreu parte da super alegre e mimosa festa dada a Rodrigo, Sabrina, Carol Carole e a Pequena Linda Sorteabeça. Como eu havia informado no capítulo anterior d’A Pândega do Pônei!, o mundo todo se caga na calça quando sente o cheiro de uma festa recheada de pôneis viciados em heroína, acrescida de balões de todas as cores e atores de filme pornô. Balões azuis, vermelhos, amarelos e rosa-choque enchem os olhos de qualquer pimpão de lágrimas, não é verdade? E o que dizer de lindos e compassivos atores com membros gigantescos? Lembram o céu, é ou não é? Pois nesta festa não foi diferente. A felicidade e o desejo por sacanagem estavam estampados no rosto de cada pentelho filha da putinha. Até os pais de Fochesatto, um lindo meninote que cedeu sua casa para a realização da festa, deixaram de lado a matança indiscriminada de golfinhos fofinhos para fazer parte desta comemoração comemorativa. Mas vocês devem estar se perguntando: quem é Fochesatto? Bom crianças remelentas, Fochesatto é um meninote bem bonitinho e pervertido, além de ser um amigo fiel e alegre das Crianças Mais Sortudas, Sem Sentido e Sacanas do Mundo. É ainda um rapagote sempre afim de assistir desenhos x-rated, que adora um bom e seguro sexo grupal. Fochesatto é também um apaixonado praticante da inocente modalidade fist fucking, um jeito delicado e indolor de fazer os coleguinhas sorrir. Com tantas qualidades, era inevitável a sua presença na festa mais colorida e cheia de pôneis do mundo!

Mas vejam bem crianças, o mundo não é feito somente de benditos pôneis e parques de diversões seguros, providos de palhaços psicopatas e cordiais. Pois sendo assim, ocorreu um fato, durante o regozijo, que entristeceu a todos: Sorteabeça foi morta sem querer. Mais foi sem querer MESMO! Vou lhes contar o que aconteceu. Uma outra amiga das Crianças Mais Sortudas, Sadomasoquistas e Sacanas do Mundo, chamada Luciana Goodend, levou sua 12 cano cerrado para impressionar um pretendente, que ela sabia, era apaixonado por armas e sangue – o que é totalmente compreensível. E sem querer, sem querer MESMO, Luciana disparou sua arma carregada. Fato contínuo, os macios e delicados chumbinhos que moravam dentro da 12 encontraram em seu caminho a cabeça da Pequena Linda Sorteabeça, que, como pôde ser constatado, não tinha tanta sorte assim. Ademais, Sorteabeça nunca soube se posicionar em uma festa frequentada por gangues rivais e meninas armadas de amor.

Porém este pequeno contratempo não atrapalhou em nada a celebração. O padre da paróquia, que também participava do bacanal, se prontificou a limpar a sujeira que Sorteabeça fez. Nada que o impedisse de continuar a chupar todas as criancinhas malandrinhas. Mas é lógico que ele fazia isso com o consentimento dos pais. Tudo na mais perfeita ordem e com o mais alto respeito. Padre Jesus, o mais bem dotado das arredondezas, fez o favor de comer todos, sem cerimônia. Meteu a rola nas criancinhas com todo o carinho que a situação pede, e depois passou Hipoglós no frágil bumbum de todo mundo. De todos os cantos só se ouvia agradecimentos: “Eba” pra lá, “quero mais” pra cá.

Mas sinto em lhes informar que terei que me ausentar por uns dias, ou alguns meses, pois malvados homens feios chamados policiais encontraram a casa deste autor que vós fala, e eles não gostam nem um pouco de ver pessoas contentes. Contudo não se preocupem, bebês de bundinha assada, assim que eu conseguir me livrar destes titãs da incompreensão, continuarei a dividir com vocês pérolas aventurescas d’A Pândega do Pônei!.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Young & Hungry Pôneis!

Oi Criançada!




Ler é divertido, legal e educacional, e este textículo é um dos mais empolgantes que já houve! É sobre as crianças mais sortudas e famintas do mundo: Rodrigo, Sabrina, Carol Carole e a Pequena Linda Sorteabeça, e suas impagáveis aventuras em A Pândega do Pônei! Todo mundo adora pôneis! Todo mundo adora festas! E isso significa que todo mundo - absolutamente todo mundo - adora festas com pôneis. Neste feliz texto deliciosamente apropriado, os simpáticos irmãos serão mimoseados com uma festa divertida, um grande prêmio, muita porra de cavalo, um passeio de pôneis, diversos adultos bondosos, bem dotados e sensatos, e todo o bolo de maconha que conseguirmos comer! Não parece perfeito? Mas lembrem-se, meus jovens amigos, a vida é mais que pôneis e bolos. Mantenham os seus dentes e gengivas brilhando de limpos, o cú com as devidas pregas, obedeçam aos pais e aos padres chupadores de criancinhas bonitinhas, tentem ser bons cidadãos e continuem lendo tudo a respeito d'As Crianças Mias Sortudas e Sacanas do Mundo, escrito por mim, seu adorável autor!!!

Jubilosamente,

Rodrigo Racin Solo Meloni

sexta-feira, 16 de abril de 2010

I'm a fucking stealer


Agora que os membros estão rígidos e o sangue se faz pedra nas veias. [Ontem] Agora que o encéfalo se esboroa e destaca das secas meninges esverdeadas. [Crisântemos] Agora que a carne balofa visita a dureza do basalto e os intestinos dilatam ao inchaço azul de não expelidos excrementos. [Passado] Agora que a necessária morte exata me invadiu desde o cerne das unhas que pesa mais em meus ombros dobrados, já cadáver.[Sorridente]

Agora eu sou do lado de cá da morte onda branca, perdida no âmago do mar azul, que te acaricia e chama. (Piauí em chamas abertas e afagos omissos). Eu sou o mar que pede a morte daqueles que não sabem nadar, e sorri com cada afogamento adestrado. Eu sou o mar que adora crianças em perigo, a gritar os nomes das mães drogadas de sol a beira-mar, queimando sob meu amigo sol, procurando uma beleza que não reside na vida. A morte que me venha em véus e súbitos lampejos de blush pedrificado! Rebecas, atirem seus blushs sobre a catedral e queimem os bispos!!!

Agora cheiro profundo, de dentro do meu nariz escarnecido, pelo tempo e pelo pó do tempo. E pelo pó.
Eu broto da areia molhada/encharcada com um olhar curioso de quem espera a morte afundar seus pés em meus lábios arenosos. Meus lábios que já experimentaram de tudo, menos tuas águas;
Me misturo então as algas e detritos. {um trem se precipita sobre a indústria suja dos cantos/recantos em mantos do rio brejo: eu sou agora Costela de Adão! E as crianças agora queimam sob o sol, queimam suas mães e jantam as partes íntimas dos bispos. Dividem com as moscas o meu amor por ti. E enchem suas pequenas barriguinhas de carne sacro-santa.

O papa canta em cantos gregorianos: Criancinhas, criancinhas, criancinhas...e é tão belo ver o papa apaixonado pelas criancinhas verdes, esperando o deflore.

Sou também um barco à deriva, de velas desfraldadas, pedindo-te, em socorro, um beijo. Mas quem socorre quem?, Quem, seo Bombeiro de asas quebradas e avenidas de lanterna vermelha::::::: O amor pede socorro, enfim? Ou é a morte disfarçada de Mae West que me excita com a mão esquerda? Uma punheta milenar. Dedos calmos, a me matar as vontades.

A Lua, no horizonte. E a lua grita iniquidades oblíquas.
)O - blí - quas(
E sou seus reflexos de prata, na quietude do lago adormecido/encarecido por um pagamento qualquer. A lua morre, fraca de câncer. A lua é fraca.

Lago-puta de centavos alheios.

Nº32 - Eu sou a tempestade súbita, grossas bátegas jorrando impetuosamente, de uns olhos que te querem ver. (Quem dera eu fosse um qualquer querente vidente em mãos de urso panda).
Eu sou o mar! [do forno que não acende mais...]
Revoltado, sereno, liberto e...só!
Eu sou o mar! Eu sou um bêbado mar borginiano. Shhhhhiiiiiii, fale baixinho - mas tenho sede de seu sangue.
E te abraço e envolvo. (envolve, envolve, engorde, minha porca...;

VEM>Banha-te em mim, bebe o Sol dourado das minhas cristas, ajuda-me a acalmar as fúrias, mergulha nas minhas águas, violando-me!
Eu sou o mar! [mais uma vez, mar vultoso azul parêntese]
Peixe, sereia, Neptuno; um sereal killer de oceânidas.
UMA grande puta amarela, comedora de peixes e feixes.

Serei tua viagem de hoje, repetida sempre, que me abrasa.
Como naquele dia que a morte nos guiou pelos corredores dos templos liquefeitos..............
Navega-me, sente o meu murmúrio, que é grito, lamento e apelo, "qdo eu peço um pouco mais de falta de ar debaixo de água fervendo"
sem medo, meu labor...
A morte.

A morte.
Só a morte. Em intervalos televisivos.
A sorte.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

_

Toda Vez Que Falta Luz

aconteceu certa vez
um larará tão pontiagudo
que parecia zunir o céu

foi com aquele rapaz que tinha o dom
de fazer os grilos calarem

dizem que ele foi perdido no mato
entre galhos secos e pingos de ouro
nunca mais o acharam

mas o larará
aquele larará

nunca mais foi esquecido

e entrou de primeirinho na lista dos lararás de todo o mundo


Paiol

um caramujo é só um caramujo
e uma vespa é uma vespa
mas quando olho um caramujo
quando ouço uma vespa...
sei que sou um pouco caramujo
e a vespa um pouco eu
e um pouco caramujo



ex..te..nu..a...do
extenuado
este nu ado
este nu
lewis carrol, bem longe daqui



lewis carrol
levis carrol
leviscarrol
levisquerol
leviquero
levizquero
leviza quero
Leveza quero

sexta-feira, 9 de abril de 2010

para Alberto Caeiro


Só meu corpo

está contando a vida

a minha alma
é solta e vasta
como a eternidade
de todos os instantes

só meu corpo
há de cansar em carne
e desgastar aos dias

o meu espírito,
curioso e alerta,
é como o olhar aprendiz
a passear pelo novo

meu corpo sabe ser alma e espírito
quando desperta junto à realidade

aos anos, deixo esse corpo
em pó de tempo entre a calma das horas

leve, sem questionamentos,
segue a pouca alma
que soube ser tudo
e não buscar mais nada

terça-feira, 6 de abril de 2010

UNGULADO

I'm a stealer

C'était la troisième fois que de fond et que l’article ont été dans l’acensceur.

Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo era bem definido, feminino, singular. Ela era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingênua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.

O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.

Tout à coup, lês arrêts d’acensceur, avec seulement deux là.

Ótimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára exatamente no andar do substantivo.

Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento. Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.
Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo.

Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula.

Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois gêneros.

Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais. Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objeto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.

Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.

Là la porte s'ouvrit brusquement.

Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjetivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.

Que la folie!

Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto. Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objetos. Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.

Sauf que ces conditions ont été:

Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino. O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história. Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

sábado, 3 de abril de 2010

[Silêncio]

Um cachorro rompeu o silêncio da rua. [não era daqueles silêncios nobres, de pessoas que não fazem barulho; era o silêncio sujo que os bairros boêmios tem após o amanhecer - apenas um dos bares em funcionamento, àquele horário] O sol alto já denunciava advogados e contadores em seus escritórios. [mas nós não usávamos paletó; copo a copo, desvendávamos os segredos da humanidade, como se fossemos talvez aquele cachorro que rompeu o silêncio da rua. Nunca humanos. preferiríamos para sempre aquela vida de não ter horários, mas paixões; essa vida de choro e riso alternando-se incansavelmente; sequer conhecendo o significado da palavra inércia] Seríamos eternamente livres, como prometemos naquela manhã de agosto - o frio do sul conferindo uma tonalidade rósea, quase inocente, a nossos rostos. Hoje, nostálgico lembrar aquela manhã, há pouco mais, ou pouco menos talvez, de cinco anos. Meu despertador toca antes da hora em que outrora eu dormia. E nós sabemos em silêncio, como o silêncio das ruas boêmias ao amanhecer, como o silêncio rompido daquela manhã fria de agosto, que não há mais tempo para abraçar a vida.

quinta-feira, 25 de março de 2010

eis aqui um signo
desmotivado: aceita
sem querer
os códigos
hierarquizados

passivamente renuncia
o seu princípio
elementar
de incorporar

letra a letra
verso a verso
espaço traço palavra

sua natureza
arbitrária
em denotar
icônico contentamento

aos símbolos
do ser

perceptível - a expressão
da língua

pura e simples

sensivelmente humana