sábado, 30 de abril de 2011

Foi assim que o matei



O céu estava prestes a partir-se. Eu aguardava que dele caíssem pedaços estrondosos e consistentes, como o barulho que os trovões premeditavam. Por ora soavam graves, como se uma rachadura percorresse toda a extensão do céu. Por ora soavam tão agudos como se uma delgada peça de cristal tivesse sido lançada violentamente contra o chão.

O caldo grosso gotejava corpulento por sobre o telhado cor de aurora. Os pingos ávidos refletiam o piscar do céu, para, logo em seguida, tornarem-se novamente transparentes.

Meus três meses de Neruda haviam se encerrado. Me despedia de Neruda como se ele houvesse morrido no instante que fechei suas memórias. As minhas lágrimas escorriam junto com a chuva imperatriz, como se houvesse cumplicidade entre elas.

A luz dos raios também era conduzida pela salinidade das lágrimas do meu rosto, que abandonava sua luminosidade diáfana momentaneamente para colorir-se de um prateado númbico, que quase me cegava.

Me despedia não só de Pablo, me despedia de você. As fantasias e o ideal romântico, tão ingênuo e frustrante, escorria rastejante, dissolvendo-se pela pedra clara do chão da calçada. Não existia rancor, não existia saudade, era só uma interpérie de realidade que me sacolejava dizendo-me que não existia foguete capaz de alçá-lo a distância mais que lunar que meus sonhos te levaram. Você se transformou em moléculas rarefeitas no infinito disparatado do meu espectro.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Quarto e sala,

Hoje meus cômodos poros se abriram logo na calçada da casa. Limpei meus pés. Quisera eu entrar. Subir as escadas. Respirar o jardim. Cozinhar as panelas. Fazer da mesa bancos, dos bancos portas, das portas janelas, das janelas quintal. Será que os vizinhos vão perceber?Acho que não, há muitos carros lá fora. Você vê? Os canais estão abertos. Limpei meus óculos. Hoje meu caos telhou nosso grande horizonte. Amanheceu com sombra. Sinto falta. Na correria. No engarrafamento. No trabalho, no atalho, no acordar cedo e dormi mais tarde, no caminhar circular, contramão, contra os muros, contra os murros  que vão virando árvores que vão virando nuvens estampadas pra passarinho voar.  Tá chovendo lá fora ou será que é a torneira que esquecemos aberta?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

a lot like you

para Pablo Neruda y Neil Young







somos tan libres, aunque vivimos a buscar lo mismo..

hay una canción perdida en mi pecho

está entre las piedras y los sueños

para encontrarla tenemos que olvidarnos de los nombres

todas las ropas que nos han vestido

están rotas y no nos sirven más



llenos de pensamientos desnudos

leves como las hojas a desprenderse del árbol

vamos, a buscar sabiduría en vida

a crecer y aprender con las estaciones



he perdido mis fronteras, ya no quepo más en mi

hay un tanto de ti por toda la gente

camino a cosechar este néctar repartido



ya sé llevar conmigo apenas lo mejor de cada uno

lo que pesa menos, lo que tiene alas y ojos iluminados



en un cielo de astros vagarosos

navegando entre sueños de infinitas alas

mi esperanza es como un pájaro recién nacido

a confiar en el viento, a entregarle su alma



dulce son los sonidos respetuosos de silencio

los que cuándo muchos se reconocen uno



harmonioso y amable,

mi nuevo cuerpo va a buscarte

mi compañera, mi libertad..





espinhuda

cada jardim
no seu galho
de roseira