terça-feira, 8 de novembro de 2011

sobre Uma faca só lâmina (ou serventia das ideias fixas)
de João Cabral de Melo Neto





sexta-feira, 4 de novembro de 2011




Hold my hand, my heart is a missing plane
it flies away, babe
it fears not to stay
longer, a spring will bloom and fade


(to blossom dreams in colors, life in days)


I want you to know
it doesn't really matter what they say


Hold me tight, our love is a safe bay


I've sailed night and day
it felt dark and cold, just to say
but there was you, dear
a clear sky above my way


(blue as the sea, when it smiles and waves away)


You've been lost, babe, I can tell
your eyes 'came pale, your voice so gray
but now it's all changed, babe, we've flown and made
take my word when I say, I'm here to stay


Hold my hand, love, together we must leave this shade





sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Empirismo didático sobre o que a imaginação julga ser necessário para uma pesquisa bibliográfica sem excessivos sentimentos

Anda, amplia essa polaroid e me cria um ditongo nasal entre teus lábios. Vês como tudo parece embaçado, como tudo ao nosso redor soa míope? No tempo em que éramos gigantes, que éramos grandes o suficiente para esmagar quem nos ofuscasse o caminho... Ah! Naquele tempo as cousas eram diferentes, e talvez por isso sofras com essa distância, com esse hiato. Nossa língua precisa de uma reforma, e precisa disso com urgência – com acentos, com sons graves, com onomatopéias, com metáforas e poucos simulacros. Deixa de lado o romantismo, as flores e aquelas palavras melosas. Deixa de lado as melodias mais bonitas. Gritemos! Urremos! E se nossos contratempos te confundem é porque já não estás no mesmo ritmo, na mesma linha de pesquisa: teu objeto, é preciso admitir, já por outra pessoa vem sendo pesquisado – com mais afinco e dedicação até. Em algum momento nossas bibliografias não bateram. Faltou correção, concordas? Aliás, nossas referências estavam erradas. No fundo, acredito, estavam certas, mas usamos edições diferentes. Apenas isso, e este apenas deve vir craseado e com uma ínfima nota de rodapé. Quem sabe sejas proparoxítona demais para mim, ou eu te seja demasiado pretérito. Vai saber... Conjuga comigo aquele encanto que nos idiotizava, por favor: eu te gosto, tu me gostas... É ridículo, eu sei. Mas e quem não é? Até mulheres sem orifícios muitos aí amam, sabias? E se estamos hoje tão rudes um com o outro é porque ela sumiu com nossos sentimentos. Simplesmente sumiu e nos deixou assim, órfãos de pai e mãe, de felicidade e dor, de prazer e desgosto. Talvez tenhamos nos precipitado um pouco com toda aquela paciência pueril. Talvez tenhamos justificado com muitos se todas as nossas frustrações. Talvez e talvez, meu bem. O fato é que hoje estamos ruços, e nossos matizes - aqueles tão bonitos que tatuamos em nós quando da bebedeira regada a pornografias comportadas; nossos matizes hoje são ponto e vírgula desnecessários nessa oração ímpia e murcha de . Nossas pequenas rusgas devem ser postas de lado, enviadas numa carta endereçada a ninguém. Será apenas um exercício de saudade. Quando verificarem que falta algo no remetente, encontraremos o nosso próprio endereço - e leremos juntos as informações dispostas no verso que justificam o esvanecimento da nossa polaroid.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

.oito ou nove horas.


.abri meu peito a ti, moça. você estava dentro pulando e ecoando. sangrei bonito. coloquei o meu melhor batom. viste? fundi meu pensamento. minhas ideias queimaram, sublimaram em fumaça-palavras. senti medo, confesso. mas hoje, aberto, vejo que me afobei. estou sem ar. ecoas em mim, mas sinto que o som vai morrer. vou ficar surdo por ti.


domingo, 2 de outubro de 2011

Confesso que sobrevivi

Seus estilhaços continuam me cortando a carne.
Mantive minha nuca ajoelhada o quanto pude.
Todavia, meu ventre não cabe mais naquele sub-sólido. O peito nômade que você conheceu se separou de mim no mesmo dia do nosso último encontro, na escrivaninha do 16º andar.


"Se Deus não existe, tudo é permitido?"

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Uma criatura Dócil


"Os condenados à morte, dizem que eles dormem profundamente na última noite."



                                                     ( Dostoiévski, dançarina do Congo no dia seguinte, Vila Bela da Santíssima Trindade/MT )

sábado, 17 de setembro de 2011

.sobre êxodos e mergulhos.


E se te tive pouco nítido, foi por pressa. Antes de pulares, ainda gritei teu nome. Avisei do perigo, consultei bulas e li mãos alheias. Tudo para o teu bem. Não me ouviste, ignoraste o meu cuidado, julgaste ímpia minha preocupação. Vi bem teu movimento de desapego, o teu olhar de descaso e teus gestos imprecisos. Estavas úmido já, e eu percebi bem isso, rapaz. Sim, pois não sou tão boba assim. Não adianta insistir, pois neste lago aqui não pulas mais, e muito menos vais prender a respiração em apertos meus. Não, não. Estás fora de foco adrede, e se te gravei neste instante decisivo - perdoa-me, Bresson - é para saberes que ainda tenho algum orgulho.

Anda, volta o tempo e perde a chance de me conhecer. As cousas serão bem diferentes a partir de agora. Tenta não cair em mim, pois o ritmo é outro, e nossa valsa há tempos parou de ser tocada. Volta para terra firme, para a borda do mundo que erguemos juntos. Nosso amor assoreou nossos corações, e nossa incúria salvou a capacidade de sentir. Eu sinto muito, rapaz, mas em mim não mergulhas mais. Afogo outros, e que isso fique claro: eles me nadam muito melhor.


sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Meo Benjamin,

Hoje aqui em casa apareceu uma caneta de um tal José Carlos. Pelo formato da ponta acho que é um desses que escrevem com a caneta quase encostada no papel, que faz com que as letras deitem sobre as linhas umas do lado das outras parecendo ventania de lá pra cá. Engraçado que fiquei olhando o corpo destransparente dela... O papel branco rasgado despretenciosamente com cuspe e força dos dedos. A tampa azul sem mordidas nem cicatrizes

Quase esqueci das nossas cinzas. 

Meo, já me sinto um cadáver. Prestes a embarcar para a rússia. nem com óculos de sol consigo enxergar um palmo diante do nariz. Passo os dias atrelada à cama. fumando e bebendo coca-cola-cerveja-coca-cola-cerveja. Estou cada dia menor. Meus dentes, começam a cair lentamente.

Saio daqui a pouco pra encontrar o pessoal do pedal noturno. Um beijo! Não se preocupe, consertei a bicicleta. Troquei a lâmpada, tirei o freio, pintei de verde a roda da frente, ficou semi-nova. Não esquece de colocar as plantas da janela. Ah, deixei um suco de maracujá com banana pronto pra você na geladeira!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Bilhete anunciado nas entrelinhas de uma suspeita de consentida tra-tr-traição


Roendo unhas paras inspirar uma legítima agonia. Ouvindo suspiros, vendo rastros de lágrimas. Olhei-te com desespero, com ares de urgência. Roí-me em medo e costurei a nossa incomum falta de coragem. A nossa sincera covardia, a nossa necessária falta de ar... Os momentos no bar ouvindo aquele - aquele, ora! - tipo de música. Alguém no panteão dos sons, com melodias parecidas e igualmente doídas. Aleijados de dor, amputados de amor. Surrupiei de ti alguns sons, alguns ruídos. Senti em ti idiomas outros, paladares diferentes. Aquele tormento em vórtice, aquele mantra sentimental... Tudo me consumindo, me desbotando. Compreenda este meu cinismo na hora do gozo. E se te olho assim é por raiva boba. Talvez por teres me mordido tão bem.

Agora me olha bem, para poderes com humildade me esculpir em tuas retinas. Meu bem, irei te deixar.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Meo Benjamin,

De fato nunca mais achei minhas chaves. Nem no abacateiro, nem no tal ninho de sabiá. Tudo bem. Tô morando fora desde então. Entre meus seios guardei o Japamala, o bilhete e a discografia do Belle and Sebastian. O você que eu amo continuo não tirando de mim nem pra tomar banho. Na minha nuca escrevi aquele seu poema favorito (que é preu sempre olhar pratrás e sorrir.)

- Me fode!
- Assim?

domingo, 14 de agosto de 2011

A Janela

de Paulo Bomfim


Na parede do mundo abre-se a janela:
Somos paisagem.

O olhar cruzou fronteiras de vidro:
Somos estrangeiros.

A alma navega em barcos de luz:
Somos naufrágio.

Pássaros flutuam na manhã cobalto:
Somos cantiga.

Surge a lua nova em nossa lucidez:
Somos transparência.

Na parede do mundo fecha-se a janela:
Somos a viagem.

terça-feira, 12 de julho de 2011

quando me distraio sob teu silêncio somente esse vento, frio e seco, é capaz de redesenhar o gosto das marcas de sua sede cravada em minha pele

com sorte, ele também congela a lembrança impressa de teu corpo amargo em minha vadia-língua







segunda-feira, 13 de junho de 2011

 “é que cuiabano quando faz frio a cabeça trava, o corpo rejeita, mente nubla, o futuro tem pressão baixa”.
- quatrocentos e oito sul né?
- é.
- quatrocentos e oito sul: aí vamos nós!
 (vamos)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Eduardo Galeano • Sangue Latino

Islã

- Com quantos padrões se faz uma estampa?
- Contar touch art é como fazer a distância psíquica existir outra vez.
- Meu colete moral diminuiu de tamanho.
- Afinal, você é um homem ou uma lata?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

No dia em que os ventos diziam que o mar iria crescer a ponto de nos sufocar,
encontrei nossos 3 pássaros mais leais construindo um ninho
capaz de nos carregar sobre o vento infinito.

Já não nos preocupávamos mais.

Por mais alto que fossem os ares,
nos agradaria criar guelras
e agora habitar a imensidão salgada.

De nossas árvores,
escrevemos cartas nas folhas que partiam com as estações ˜ ˜

sábado, 30 de abril de 2011

Foi assim que o matei



O céu estava prestes a partir-se. Eu aguardava que dele caíssem pedaços estrondosos e consistentes, como o barulho que os trovões premeditavam. Por ora soavam graves, como se uma rachadura percorresse toda a extensão do céu. Por ora soavam tão agudos como se uma delgada peça de cristal tivesse sido lançada violentamente contra o chão.

O caldo grosso gotejava corpulento por sobre o telhado cor de aurora. Os pingos ávidos refletiam o piscar do céu, para, logo em seguida, tornarem-se novamente transparentes.

Meus três meses de Neruda haviam se encerrado. Me despedia de Neruda como se ele houvesse morrido no instante que fechei suas memórias. As minhas lágrimas escorriam junto com a chuva imperatriz, como se houvesse cumplicidade entre elas.

A luz dos raios também era conduzida pela salinidade das lágrimas do meu rosto, que abandonava sua luminosidade diáfana momentaneamente para colorir-se de um prateado númbico, que quase me cegava.

Me despedia não só de Pablo, me despedia de você. As fantasias e o ideal romântico, tão ingênuo e frustrante, escorria rastejante, dissolvendo-se pela pedra clara do chão da calçada. Não existia rancor, não existia saudade, era só uma interpérie de realidade que me sacolejava dizendo-me que não existia foguete capaz de alçá-lo a distância mais que lunar que meus sonhos te levaram. Você se transformou em moléculas rarefeitas no infinito disparatado do meu espectro.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Quarto e sala,

Hoje meus cômodos poros se abriram logo na calçada da casa. Limpei meus pés. Quisera eu entrar. Subir as escadas. Respirar o jardim. Cozinhar as panelas. Fazer da mesa bancos, dos bancos portas, das portas janelas, das janelas quintal. Será que os vizinhos vão perceber?Acho que não, há muitos carros lá fora. Você vê? Os canais estão abertos. Limpei meus óculos. Hoje meu caos telhou nosso grande horizonte. Amanheceu com sombra. Sinto falta. Na correria. No engarrafamento. No trabalho, no atalho, no acordar cedo e dormi mais tarde, no caminhar circular, contramão, contra os muros, contra os murros  que vão virando árvores que vão virando nuvens estampadas pra passarinho voar.  Tá chovendo lá fora ou será que é a torneira que esquecemos aberta?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

a lot like you

para Pablo Neruda y Neil Young







somos tan libres, aunque vivimos a buscar lo mismo..

hay una canción perdida en mi pecho

está entre las piedras y los sueños

para encontrarla tenemos que olvidarnos de los nombres

todas las ropas que nos han vestido

están rotas y no nos sirven más



llenos de pensamientos desnudos

leves como las hojas a desprenderse del árbol

vamos, a buscar sabiduría en vida

a crecer y aprender con las estaciones



he perdido mis fronteras, ya no quepo más en mi

hay un tanto de ti por toda la gente

camino a cosechar este néctar repartido



ya sé llevar conmigo apenas lo mejor de cada uno

lo que pesa menos, lo que tiene alas y ojos iluminados



en un cielo de astros vagarosos

navegando entre sueños de infinitas alas

mi esperanza es como un pájaro recién nacido

a confiar en el viento, a entregarle su alma



dulce son los sonidos respetuosos de silencio

los que cuándo muchos se reconocen uno



harmonioso y amable,

mi nuevo cuerpo va a buscarte

mi compañera, mi libertad..





espinhuda

cada jardim
no seu galho
de roseira

quarta-feira, 2 de março de 2011

Putinha Feelings


A noviça reportou ao pai honrado:

- Meu senhor, por vezes um desconhecido tem me tomado em seus braços, e obtido de mim o que seus instintos desejam. Ao final de tudo papai, me sinto frágil e úmida.

O honroso disseminador se pôs a balbuciar:

- Gritaste ao menos contra o agressor, miserável tolinha?

- Não, meu pai, não convinha. Pensei que isto poderia lhe tornar triste, coisa que iria piorar o ato.

- Lhe tornar triste?

- Sim papai.

- Pois então tu és a centelha de todas as putas do mundo!

Sendo alta a noite, tempo muito perigoso, a putinha se pôs a fugir com pés de Mercúrio, como quem sabe que é do mundo.


- Se for preciso incomodar o provincial, estarei dia todo a procura do gozo primordial.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Suicidade - Lidiane Barros

Ela acordou com os passantes trombando no seu assento.(barulho de batidas de carro, freadas bruscas, gritos, sirenes). Acordou e não reconhecia a luz do dia daquele lugar. Olhou acima estava no 13B, corredor. Não sabia como estacionara ali, naquele ônibus de linha interior-capital falida. O cobrador, percebendo o buraco em seu chão, tratou de escavar ainda mais. Disse: "ele desceu no km 52". Mas, pensara ela: "ele quem?" Não tinha bolsa, não tinha um RG. Teria tido uma festa de 15 anos? (som de valsa). Se apalpou. Tinha peito voluptoso. Seria depois de uma cirurgia? O cobrador pediu que descesse. Queria ver até onde ia aquela falta de história... Ela tropeçou na escadaria do ônibus. Lá também tinha um buraco bateu com a cara num sapato, um scarpin vermelho. Ele a pisoteou. E saiu. Aquela pessoa só estava alí para pisá-la. Não disse nada, mas a humilhou. Depois disso, sentiu um tridente cortando lhe a pureza. Era escala pro inferno. Seu inferno particular. Sentiu um cheiro de perfume mediano. Podia ser o dele. Era lavanda. Como odiava lavanda agora. O homem com seu cheiro lhe abandonara rumo ao fim da linha. Talvez ele seria alguém lhe fazendo um favor, pra que ela recomeçasse uma vida nova. E um senhor que ia passando, cantava: "ele te queria para o mundo". Então, ela fez aquilo que o seu corpo lhe pediu. Se ofereceu numa esquina. Para os carros, mas eles a transpassavam. Seu corpo ficava turvo e evaporava. Nada ia ser mesmo fácil. Saiu andando ao relento de um sol cortante. Começava a lembrar... Lavava para-brisas de caminhões em posto beira-estrada e sujava a alma oferecendo um pacote maldito. A concorrência. Era ela que persuadia seus valores. Ficaram caros e imorais. Em um desses favores, pediu passagem pra lugar algum. Estava lá então. Bem lá perto da rodoviária, descobriu, tinha um viaduto bem alto que fazia corpos despencarem de uma distância bem grande e irem de encontro a carros em alta velocidade, sem tempo para pestanejar. Matavam mesmo. A sua sorte foi estar perto dele. Era tão sedentária, não aguentava andar muito. Caminhou um pouco, pulou. E a partir dai, pulou pra sempre, morreu sempre.
Você barbeira, você assassina. 


Silêncio




Lidiane Barros, 5h13 AM



domingo, 6 de fevereiro de 2011



bebi um copo de silêncio pra ganhar o gosto grosso de tua barba em minhas costas.

o dia em que contei sobre meu desespero você desejou o esquecimento, mas só o fiz por solidariedade

a mim.

nutria-me, o teu sofrimento.

bebia teu desejo cravando-te as unhas antes de tecer grandes fios de tédio.

pintamos uma quadrilha tão frouxa quanto o laço de meu vestido em tuas mãos.

estamos sós e m'esqueço aos poucos

que só retrato os amores que mato.






quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Epi Fânia


- Olha o velinho comendo uma goiaba enorme!

Ela me disse isso como se comentasse sobre o aumento da tarifa taximétrica.

Linda e breve, ela interrompia a estereotipia da rotina deplorável com as suas percepções insólitas. A naturalidade em descobrir a poética da exatidão mínima me enchiam de tesão. Quanto mais ingênuo, mais transcendental era o sexo, mais eu me transformava em algo que não era eu. Não pude mais aturar e, a partir desse dia, eu a apelidei de Epifania.

O trovão parecia anunciar a guerra,

algo desmoronava

próximo Dali.

O medo pervertido subia pelo lençol que mal tocava os pêlos

E o corpo que mal tocava os pêlos, desmembrava flutuante,

Espectrando o ego

Na volta para casa, figuras míticas, putas, trabalhadores, apostadores. Todos seguiam o cheiro da noite, cada um no seu rastro. Eram onze horas. Ainda não é madrugada e o breu ainda reflete os olhos cansados de crianças sonolentas. Em breve, ele será o desenho das pupilas desejantes da boemia que se espalha por toda cidade. A boca da noite engolia os corpos, nos tornando um bolo estomacal antes de transformar-nos em merdas arrastando-se pelas artérias de São Paulo iluminada pelo lusco-fusco.

- Merda ao sol é um espetáculo quase tão lindo e raro quanto Aurora Boreal!

Eu tentava escovar os dentes, livrar a boca do bouquet da ressaca, enquanto ela refletia sobre o raio de sol exato que transformava o marrom da merda em um tipo de dourado escuro, cobre.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Cheguei na cidade e iniciou-se uma guerra.
Tirei os sapatos e saí para caminhar.

Hoje acordei cedo e molhei as plantas.
Agora tenho um jardim para cuidar.


Choveu um oceano no Rio de Janeiro.
O jardim se afogou e estamos ilhados.


Entre o silêncio e o piano, sinto
a eternidade de nossa natureza.

Às vezes me invadem ruídos do passado.
É preciso acalmar e seguir.
Não há mais tempo para desamor.


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Meo eucípedes,

Receio que meu tradicional procedimento de rotina não seja eficientemente suficiente para suas novidades, mesmo assim, te envio saudações e anseios sinceros de que o Ano Novo seja repleto de. É que é sempre bom receber notícias sua. Não resisto à possibilidade de costurar hipóteses e manchar esquecimentos com você. E depois que 2011 vai ser diferente. Eu sinto que vai. Vou concretizar todos os planos que não cabem mais em mim e investir em erros semi-novos.  Mode custo benefício. Registrei nossas fugacidades em Cartório, que é pra não correr o risco da gente se perder de novo. Sobre seus improvisos, limito-me a dizer que às escolhas não dou o nome de clichê, as chamo pelo nome. O nome próprio de cada uma. Agora vamos direto ao assunto: te digo que comigo foi mais ou menos assim também. Meu ano passado não foi lá essas coisas... Mas também não foi ruim não! Reclamar é que nem samba, é reafirmar uma situação e você sabe o que eu penso sobre isso. Bem, eu ano passado não foi lá essas coisas. Meu ano passado não foi lá essas coisas. Pra falar a verdade fiz um chapéu e uma espada com a minha Certidão de Nascimento. Armei até os pentes, sai por aqui lutando com quem quer que fosse, all inclusive (que se movesse ou ficasse parado, três refeições e translado). Mudei de nome pelo menos cinco vezes. Meo, eu me abandonei. Corri tanto que cheguei sempre douze minutos antes dos acontecimentos. E douze minutos meo, é uma eternidade para quem só sabe contar até dez. Esperei os acontecimentos, esperei tanto que encolhi. Encolhi de tal modo que não me encontro mais nem quando estou sozinha. Cuspiram na minha cara, envenenaram meus dentes, amputaram-me o perdão, penduraram  minhas lembranças no varal até que ficassem completamentes secas, aumentaram o tamanho do Sol a ponto de nunca mais haver noite. Você tem ideia do que é viver um ano inteiro com uma tonelada de luz  gordurosa fodendo sua retina e derretendo seu cérebro? Você sabe o que é ficar um ano inteiro sem dormir, sem pregar a porra dos olhos, sem parar de lembrar e calcular e decidir e mentir e obedecer e pedir e chorar e mandar e sua ligação vai ser transferida para um de nossos atendentes continue na linha pois você é muito importante para nós? Confesso que sobrevivi, só que preciso de um rascunho que não seja meu pra eu poder passar  toda essa história a limpo.Tem um calo no meu silêncio. Você sabe de alguma casa pra onde eu possa me mudar sem pagar os dois primeiros anos de aluguel? Assim que a chuva cessar juro que prometo que te faço uma visita.
- estou por um fio.
- teça.
- não posso, perdi todas as medidas.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

I got my Kiki



Como sempre, soava mais a dor nenhuma do que a qualquer outra coisa; via-o não tanto liberto de si e dos seus tormentos como disposto a entregar-se a quem o aceite, assim, de braços estendidos e pulsos colados, quase desejando os grilhões.