sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Bilhete anunciado nas entrelinhas de uma suspeita de consentida tra-tr-traição


Roendo unhas paras inspirar uma legítima agonia. Ouvindo suspiros, vendo rastros de lágrimas. Olhei-te com desespero, com ares de urgência. Roí-me em medo e costurei a nossa incomum falta de coragem. A nossa sincera covardia, a nossa necessária falta de ar... Os momentos no bar ouvindo aquele - aquele, ora! - tipo de música. Alguém no panteão dos sons, com melodias parecidas e igualmente doídas. Aleijados de dor, amputados de amor. Surrupiei de ti alguns sons, alguns ruídos. Senti em ti idiomas outros, paladares diferentes. Aquele tormento em vórtice, aquele mantra sentimental... Tudo me consumindo, me desbotando. Compreenda este meu cinismo na hora do gozo. E se te olho assim é por raiva boba. Talvez por teres me mordido tão bem.

Agora me olha bem, para poderes com humildade me esculpir em tuas retinas. Meu bem, irei te deixar.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Meo Benjamin,

De fato nunca mais achei minhas chaves. Nem no abacateiro, nem no tal ninho de sabiá. Tudo bem. Tô morando fora desde então. Entre meus seios guardei o Japamala, o bilhete e a discografia do Belle and Sebastian. O você que eu amo continuo não tirando de mim nem pra tomar banho. Na minha nuca escrevi aquele seu poema favorito (que é preu sempre olhar pratrás e sorrir.)

- Me fode!
- Assim?

domingo, 14 de agosto de 2011

A Janela

de Paulo Bomfim


Na parede do mundo abre-se a janela:
Somos paisagem.

O olhar cruzou fronteiras de vidro:
Somos estrangeiros.

A alma navega em barcos de luz:
Somos naufrágio.

Pássaros flutuam na manhã cobalto:
Somos cantiga.

Surge a lua nova em nossa lucidez:
Somos transparência.

Na parede do mundo fecha-se a janela:
Somos a viagem.