terça-feira, 24 de agosto de 2010

meo eucípedes,

Antes de procrastinar sobre a aplicação de recursos naturais em rasos planos fictícios de participação, sinto-me na obrigação de te dar satisfação. Já disse que não sou mulher de comprar concordância, mesmo assim, te ofereço dois dedos daquele singular conhaque Yawalapeti para que durante o esclarecimento você possa repartir as exclamações em pequeníssimos pontos finais.
Primeiro reitero minha ponderação sobre as deliberações orçamentárias. Prefiro me abster da alteração da redação para a construção do novo estacionamento de triciclos, isso porque concordo com você sobre a loucura, tanto que já estou há seis anos sem dormir. Em segundo (s) informo que mesmo após ter sido punida pela coligação continuo fiel à inversão de tempos verbais. Partilho do entendimento que institucionaliza as mudanças climáticas. Até entendo que a seqüência de falta de chuvas torne inoperante qualquer árvore que se preze, entretanto não creio que todas as tulipas sejam de plástico. Por último admito que o tempo seco e as pautas suprapartidárias me converteram em pura calda de tampar buraco.  
Passo o dia plantando notícias não renováveis e nas horas vagas, tampo o Sol com a peneira. Longe de mim lamentar até porque meu direcionamento é propositivo. Proponho, portanto, a retirada da estrofe desértica e sua imediata substituição pelo trecho no qual ursos polares que riem altíssimo são elevados à condição de cidadãos.
Se me permite mais uma, e a última, condensação, sugiro que caso os tijolos te pesarem as pernas durante a flutuação não hesite em desamarrar as cordas, pois, o último verso sempre pode esperar mais um pouco.

escafandrista: @4rthr

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

LUA NOVA

O centro da cidade tá escurecendo. Mas tu entende? Entende mesmo? E quando eu vim parar aqui eu era lua cheia.
Tudo que eu disse-quero, eu tive.
Tudo que toquei foi ouro;
tudo que olhei foi meu.

Olha agora essa lua disforme surgindo na nuvem.

Nem cheia, nem meia, nem nova.
Não saberia dizer, lua morna.

Mas tu entende porquê não dá certo? Eu era agora, desperta, desesperada. Puro fogo. Mas de repente fui minguando nessa obsessão de ser tudo como se as partes fossem caindo devagar, mas rapidamente. Como quebrasse um vaso de cristal puro e, conferindo os restos, só houvesse vidro.

E eu perdi meu nome
meu norte
meu nada.

Entende? Tudo nessa velocidade atemporal, das coisas velozes que passam em câmera lenta. Assim, semi-nua
meia-lua.

Fui perdendo cabelo
perdendo tesão
perdendo dinheiro.

Pendendo tudo - perdendo tu.

Mas deixa, está escurecendo e tens que voltar pra casa. Tens que enviar aquela carta prometida para ella, em que falará que estoy bien y no te olvidaré, usando as parcas palavras do teu portunhol. Teu desejo é assinar a carta dizendo saudades!, mas para que ela te entenda, dirá apenas te quiero! Vai. Anoitece. A distância não permite desculpas, não perdoa atraso. E tua sombra, alta e esguia, como só a sombra dos homens baixos e opulentos se permite ser, se distancia, a passo largo.

No caminho, aquela dor de ter me feito triste se confunde em náusea com essa coisa de verdade que tu sente. Entende porque não deu certo? Não te preocupes, a escuridão do centro me protege ainda. E ela quem me ouvirá dizer, de mãos dadas com o vento, que hoje eu sou lua nova. (Mas acho que prefiro mesmo que tu caminhe as próximas quadras com esse remorso de mim, que perca o sono em desculpa). Que entendas estes pequenos milagres: o centro está escurecendo ao meu redor.