terça-feira, 29 de setembro de 2015

vertigens de outro verão



“Percebi que cada célula do meu corpo, cada manifestação do meu espírito carregava um anseio de união. Não era uma questão de imaginar elos, e sim de perceber os elos que já existiam: eu estava unido a vida e unido a morte, unido ao tempo e unido a eternidade, unido aos meus limites e unido ao infinito, unido a terra e unido as estrelas. Unido aos meus pais, aos meus avos, aos meus ancestrais, unido aos meus filhos, aos meus netos, a minha descendência futura, unido a cada animal, a cada planta, a cada ser consciente. Unido a todas as formas de matéria, eu era lodo, diamante, ouro, chumbo, lava, pedra, nuvem, onda magnética, descarga elétrica, furacão, oceano, pluma. Unido ao humano, unido ao divino. Ancorado no presente, unido ao passado e ao futuro. Ancorado na obscuridade, unido a luz. Atado a dor, unido a euforia delirante da vida eterna.”
(Alejandro Jodorowsky, a dança da realidade, p 72)


manuscritos de um verão de 2013


Tenho sofrido de vertigens. Vertigens profundas. A batida de um Amor assim, absoluto.
Caminho embalada por uma sinfonia que não me abandona, sinto vibrar o meio de meu peito a cada nota, a cada toque de um piano uma dor de suspirar e respirar lá fundo.
Já não consigo me ater as coisas sérias desta vida. Caminho a escutar esta melodia brilhando a cada encontro. Passos me levam flutuante e imersa em tudo que se apresenta. E são tantas formas, tantos desenhos e sentires do Ser. A cidade imersa em seu movimento de vida e destinos, e eu me encaminho, extasiada ao som das cores que nossos olhos compartilham.
Já não escrevo com razão, já não há medida e linha para a tinta que escorre. Transcorro sonhos com a fome de que meu delírio possa nos alcançar e nutrir uma dança.
Em cada nota do piano, vamos lançar nossos corpos diluídos, sem fronteiras de levada. No compasso delicado, sonho viva mais esta dança. Poder mergulhar em um horizonte compartilhado, saltar os labirintos das esquinas que nos cercam para sorrir nosso silêncio encontrado. E neste instante deslocado de tempo futuro e destino, alcanço a tua mão e me levas devagar.
Já não respiramos.
No auge do suspiro mais solto, meu peito abre-se a despir-se de tudo que achava ser. Estou pequenina, sou pluma no raio de sol de clara iris selvagem. Perco a linguagem e canto os pássaros além das janelas. Meu corpo desconhece o medo que requer segurança. Confio na montanha da melodia renascida e contemplo o Ser que se desloca inteiro a voar toda paisagem.
Estou completamente perdida e deliro pianos.
Minhas raízes aprendem a pisar pela primeira vez a sutileza eterna das pedras. Na imensidão azul, marés naufragam canoas adormecidas sob o apogeu dourado do grande espelho.
Estendo minha pele junto a árvore tranquila, cajús floreiam suas alegrias e nos convidam a ondular estrelas cores e espectros na película do infinito.
Despertamos juntos ao desfalecer de seus tons de céu. Róseo laranja, bailarinos. Do outro lado do planeta há um cisco de ilha que te encantou em Alma e Vento.
Sem peso, sem molde, sem idade, inflexível, na pintura que amanhece seus pés acham areia até o meio do oceano. Bordadas ondas acompanham seu soltar de penas e esplendor. 
Dourado fogo sobe calor e tinta, a graça dos olhos que podem agora te encontrar. Lentamente acompanha esta levada integrada, e vem tecendo a razão do que aqui não sabe mais no mar.

Pouso minha presença na Arte que se revela.

Vertigem

Sou absoluta

A Poesia inteira dos dias

Somos Liberdade sem nomes

A sinfonia profunda do piano navegando o sonho de Amar