sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Um iê iê iê, por favor

Desde pequena escutava o barulho dos passos até durante a ausência de movimentos entorno. Permitia, mesmo sem saber se eram de deus ou do diabo. Era quinta-feira e seus poucos pêlos estavam encharcados de suor. Flertava com a velocidade dos pés quando desceu pela Treze e num pedaço de instante resolveu subir os degraus. Pisou somente nos mármores escuros ímpares, escolheu a segunda porta lateral e sentou-se em um dos bancos.

Ali, sentia-se plena interrompendo a única corrente de ar que ainda enganava o Sol. Olhava para cima e podia sentir a luz rasgando os vitrais coloridos divagando raios. Contava a décima quarta cor quando desistiu dos números depois de confundir azul celeste com amarelo terra.

Fechou os olhos para escutar o vento respirando sua pele do rosto criando refrões publicitários com o barulho que os cabelos faziam quando brincavam com seus brincos. Concentrou-se. Abriu os olhos, os braços e as pernas para que ele entrasse por inteiro. Esperou durante duas músicas cantadas em latim. Ele não se moveu da parede. Concentrou-se e fechou os olhos mais uma vez. Nada.

Desacreditou.

Tentou esquecer o almoço com a língua, usou a unha mais antiga e depois levantou-se. Atravessou a rua e entrou no primeiro ônibus que não passou.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Retórica

Um bloco. Um punhado de letras jogadas, abruptas e incansáveis.
Palavras se alimentando uma das outras, com força, com casca, com fome.
Ingeridas uma por uma e de uma vez só.
Com sal, pimenta do reino e adjetivos de ovos fritando.

Era gente e poesia em ebulição.

Composições primitivas brigando entre si e contra o calor sinestésico.

Mas naquele inverno já era quase noite.
E então ele molhou o indicador com pura saliva escovada na semana passada e apalpou vigorosamente cada linha de grafite.

Arrancou as vírgulas e os travessões.
Asfixiou as maiúsculas com o mesmo sopro que permutou reticências por espaços em branco.

Agora, era ele e a estória.
Ele, e suas células acentuadas.

Antes mesmo dos capítulos desfilarem abstinência circular, tentou vender três ilustrações por um ponto de exclamação.

Mas era quase dia, e as células estavam vivas.

Todas ali.

Flutuando no vinho tinto de mesa.


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segunda-feira, 20 de agosto de 2007

domingo, 19 de agosto de 2007

Duas


a gente se guia sem pé nem cabeça.

a gente gosta de meter os pés pelas mãos!
como quem cospe no prato que comeu e belisca o arroz que sobrou;

como quem morde o próximo pedido e escolhe o doce para ter certeza que se fartou.

de repente o relógio do estômago marca duas!

duas chances: uma para sede e uma para náusea.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Ponto de ônibus

diego.olhar

seu Isidoro.
o neto.
o sul.
depois do segundo grau,
as coisas ficaram de repente...
bonictas
e musicais.


quarta-feira, 15 de agosto de 2007

feira de quarta

odeon.verão


dessas notícias que fazem o rosto da gente rir e os pés dançarem descalços sobre o chão.

carteira, holerites, meses roubados, fundo de garantia...
tudo junto, abrindo e fechando o verbo em círculos.

degustando o sol com os dedos. lambendo os dedos.

assim...

imitando gosto de samba sem letra.