segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Uma criatura Dócil


"Os condenados à morte, dizem que eles dormem profundamente na última noite."



                                                     ( Dostoiévski, dançarina do Congo no dia seguinte, Vila Bela da Santíssima Trindade/MT )

sábado, 17 de setembro de 2011

.sobre êxodos e mergulhos.


E se te tive pouco nítido, foi por pressa. Antes de pulares, ainda gritei teu nome. Avisei do perigo, consultei bulas e li mãos alheias. Tudo para o teu bem. Não me ouviste, ignoraste o meu cuidado, julgaste ímpia minha preocupação. Vi bem teu movimento de desapego, o teu olhar de descaso e teus gestos imprecisos. Estavas úmido já, e eu percebi bem isso, rapaz. Sim, pois não sou tão boba assim. Não adianta insistir, pois neste lago aqui não pulas mais, e muito menos vais prender a respiração em apertos meus. Não, não. Estás fora de foco adrede, e se te gravei neste instante decisivo - perdoa-me, Bresson - é para saberes que ainda tenho algum orgulho.

Anda, volta o tempo e perde a chance de me conhecer. As cousas serão bem diferentes a partir de agora. Tenta não cair em mim, pois o ritmo é outro, e nossa valsa há tempos parou de ser tocada. Volta para terra firme, para a borda do mundo que erguemos juntos. Nosso amor assoreou nossos corações, e nossa incúria salvou a capacidade de sentir. Eu sinto muito, rapaz, mas em mim não mergulhas mais. Afogo outros, e que isso fique claro: eles me nadam muito melhor.


sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Meo Benjamin,

Hoje aqui em casa apareceu uma caneta de um tal José Carlos. Pelo formato da ponta acho que é um desses que escrevem com a caneta quase encostada no papel, que faz com que as letras deitem sobre as linhas umas do lado das outras parecendo ventania de lá pra cá. Engraçado que fiquei olhando o corpo destransparente dela... O papel branco rasgado despretenciosamente com cuspe e força dos dedos. A tampa azul sem mordidas nem cicatrizes

Quase esqueci das nossas cinzas. 

Meo, já me sinto um cadáver. Prestes a embarcar para a rússia. nem com óculos de sol consigo enxergar um palmo diante do nariz. Passo os dias atrelada à cama. fumando e bebendo coca-cola-cerveja-coca-cola-cerveja. Estou cada dia menor. Meus dentes, começam a cair lentamente.

Saio daqui a pouco pra encontrar o pessoal do pedal noturno. Um beijo! Não se preocupe, consertei a bicicleta. Troquei a lâmpada, tirei o freio, pintei de verde a roda da frente, ficou semi-nova. Não esquece de colocar as plantas da janela. Ah, deixei um suco de maracujá com banana pronto pra você na geladeira!