segunda-feira, 29 de junho de 2009

nosotros.


cê me rabiscou de azul
e eu descobri tua cor
(nomeuriso suspeito)

a gente tomava laurentina preta e escorrendo inundávamos as praças de maputo

eu significava o invisível dos teus gestos
(abria o sol do teu peito de sabiá errante)

cortávamos mapas, muros e pontos de fuga.
facilitávamos ilusão e metáfora fazendo promessas e inventando cumplicidades.

corria em sua direção

pra te ver abrindo a nossa
família.

domingo, 28 de junho de 2009

não sei se outro dia haverá

Hoje acordei com um sol violento na cara, pouco antes de uma amiga me trazer boas novas das casas de mabel e de dona canô. Ela falava desatinada enquanto, avoada, eu recordava comparando as rezas de sant`antônio em pontes e lacerda, na casa de tia regina , com as de santo amaro.. as vozes sofridas em coro eram de uma lindeza! embora talvez felizes, uma dor inconsciente pintava o timbre daquele povo, sabe?

.

A unha vermelha secou, mas juro ter saído dali mais makeba que gal. Na rua o sol borbulhava de leve e o lembrar dos relatórios a serem feitos me fez bicho ínfimo, lento... preferi de novo o meio do caminho e os meus silêncios de bolso.

sábado, 27 de junho de 2009

terça-feira, 23 de junho de 2009

07:50 da matina

acordei com pré-sentimentos uterinos
e uma olheira do tamanho da cara.
muita sede na garganta
e aquela sensação de que
a vida lá fora não vai dar muita trégua.

rolo do colchão pro chão,
fito o roxo do dedo.

desde sábado mantive um contato íntimo com a carne
teci na pele as mémorias dos meus sentidos
- vezenquando confusos mas ainda meus -

vou ao banheiro e consto o ciclo:
fiquei com uma saudade absurda de você.

sábado, 20 de junho de 2009

hoy el día no me sabe a casi nada

Eu boto a mesa do café como num ritual malandramente desenhado pra te seduzir. Vez em quando fico assim quando levanto da meditação. A espinha grita num desejo arregalado.

Noite de ontem o prazer teve teu cheiro. Distraída no trabalho, as horas me escorreram polidamente do ponteiro grande na parede ao piso empoeirado do carpet. Enquanto isso.. meus dedos batucavam escondidos no bolso do paletó, fingindo frio.

(como não tenho violão, faço samba na mão feito mestre Batata ensinou.)

Pero hoy, el día no me sabe a nada.
Tá tudo insípido, salvo aquele conto sobre a máquina de ser do Noll, para o qual eu repetidamente lasco uma olhada. Como que querendo comer os mesmos fonemas das sílabas de um conto só.

Espero que logo venha o café da manhã de amanhã. Antes que eu dê o fora..

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Samba do Sol ao Eclipse da Lua

Eu ainda sou teu
quando vou pra orgia
e vou chegando o dia
que de ti amanheceu

Mesmo co'alma ao samba
tantas flores nesse mar
jardins de moça bamba
são beijos sem teu néctar

que eu procuro louco,
tu, flor que me delira.
Sambo camélias e rosas,
com marias-sem-vergonha,

sambo letra desastrosa
com perfume de begônia.
Sambo muito, não pouco,
teu eclipse me martira.

Tu és a minha girassol,
sou só um giralua teu.
Lua, o rei és teu plebeu.
mar do amor tu és farol.

Lua, Sol pra ti que samba
tua ausência me esculhamba
me afogo, vou de mal a pior.
Lua, tu és a flor maior!

Deixa-me em raios te beijar,
não vive o samba sem luar.
não se sobrevive ao mar
de flores sem sambar...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

está sendo difícil dormir esses dias parece que a insônia faz questão de me segurar por mais tempo como se cada segundo estivesse encarregado de anunciar nada mais e nada menos que essa ausência que já não sei mais se é minha ou sua só sei dessa vontade de estender o braço para agarrar algo e perceber no meio do caminho percorrido como um gesto tornou-se absolutamente em vão porque a real é que eu tento cara como eu tento e bato a cara no muro na rua eu saio emputecida e totalmente desiludida com a vida e com deus e comigo e com você e até parece que está escrito na minha testa o tamanho do meu pesar - eu e as escrotices do coração - anos e anos de terapia pra entender que "tem mais presença em mim o que me falta" mas se não fosse o colega letrado nunca me lembraria dessa certeza dilaceradamente viva que cresce feito erva-daninha pelo corpo dentro do peito faço o possível para evitá-la só que entenda meu bem falar sobre desamor é uma luta diária que frequentemente perco.

sábado, 13 de junho de 2009

acordo ortográfico.

enquanto você explicava que canção se compõe de palavra e silêncio
pintei de vinho e acostamento nossa vontade de (chorar).
fiz um mapa com sua sombra desenhada na janela
e
guardei a chuva para aquarelar seu violão.
caí de boca na sua poesia
e
cantei seus segredos em troca de carona na Avenida Principal.
(árvores não pedem perdão)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ah, os meus olhos
não sei como puderam borrar
menos cor

há tempos os trago
sempre cheios,
(inundados) a navegar
leve
perfume

(botão de flor)
é primavera
e o seu cabelo está comprido,
o mesmo sorriso sincero
o cheiro
macio do ar

eu quase não lembrava..


um campo solto
nos reconhecemos

meu peito cheio
é maresia




amanheço e acordo ]outro lado[

]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]] abro a janela [[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[


é dia de correr
sem ver
pegada

segunda-feira, 8 de junho de 2009

o violoncelo e o poste que não sabia voar

Segui seu conselho e ía. Dirigindo com prudência. Apressando-me, lentamente. Segurei a razão entre os dentes e acabei errando no caminho de volta. Não deu outra: choquei abrupto num poste.
Em plena Avenida Principal.
Tudo se de(rre)tia em muralhas impenetráveis de aço e açafrão. Placas de sinalização botavam fogo no trânsito e só as crianças estavam libertas (elas corriam olhando sem atravessar a rua).
Quando comecei a escutar o violoncelo que tinha deixado tocando em casa, imaginei que era mesmo o sentido inverso a manchar minha visão de mundo.
Meu peito se desfez em cordas. Meu corpo enrijeceu-se num puro castanho cheirando a madeira. Por instantes, fiz-me em curvas de tocar.
Senti o concreto lambendo minhas últimas entranhas. O poste vencido, caído no asfalto de veneno e sangue, também mostrava suas vísceras em fios e gambiarras elétricas multi-midiáticas.
Em notas tortas, o cal sentenciou em braille: "seu eu-lírico suicidou-se".
Pro meu desespero, uma calma infinita silenciou meu grito.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A vocês
que colonizaram nossas mentes

Eis por mim
uma pane
em introspecção

Minha tecnologia sentimental
se recusa
a executar pouca entrega

Já não consigo ser menor
em nada

Não sei fingir
gostar pequeno

Me sinto inteira
em tudo

Cabe aqui
(em mim)
imenso povoado
liberto

o meu amor é sexualmente transmissível - não sei porque diabos repetia essa frase, era tão literário querer se afundar em tanto sentimento. estar apaixonada, mesmo não sabendo bem ao certo como é estar envolvida, essa era a sensação do mês e não foi preciso ler o oráculo. estava nas mamas, acredito eu que por todo o resto do corpo. sensualmente derramada, naturalmente lasciva. no entanto, profundamente solitária e cada vez mais convicta que o poço é fundo, assim como o caminho à frente é longo. me avisaram de antemão, meu corpo já sentia os primeiros sinais de cansaço. entre uma ovulação e outra não foi difícil perceber que tudo isso é um terrível esforço para mim.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Curinga

Quando nasci um anjo bobo
desses que parecem curinga
contou uma piada pra mim.
Como tivesse tomado pinga
achei ela muito engraçada
e repeti a galhofa sem fim.

Me ensinou com toda franqueza
que toda piada é a mesma,
só muda a sua toada,
a roupa lhe dá personagem
mas esconde sua alma pelada
de verdade gostosa e gozada.

Trata-se da veste do bobo
que pisa por vezes no fogo,
malabares com certa ferrugem,
toma quedas, silvos de escárnio.
Todo bobo é um funcionário,
com crachá, horário e salário:
advogado e promotor do demônio,
comandante geral dos hormônios.

O jocoso não arrependido
é tudo menos fingido...
eis refúgio secreto do cômico
rir à toa de toda ferida
e ofegar de risada a vida
com veneno de rótulo irônico.

Os humores são como marretas
que quebram qualquer gelo,
despedaçam estatuetas.
São raros silêncios singelos,
é a compreensão do bom gosto
com aquele rubor no rosto
de quem recebe o martelo.

Quando nasci um anjo bufão
me ensinou a rimar e então
Como tivera tomado cachaça
não acabou nunca a graça
e assim no coreto da praça
fiz vergonha, drama e troça
p'ra chamar atenção da moça
p'ra este bobo que só rima
e faz corte a quem não ama.

terça-feira, 2 de junho de 2009

- tem medo de cair nos braços de alguém e chorar?
- os meus encolheram já.
- aposto que estão maiores que os meus.
- meus dentes se abraçam. num riso meio falecido.
- sorri pra mim, do meu lado, de novo. um dia?