Partir. No próximo trem ao amanhecer. Grudada na beira da janela, os olhos vidrados de paisagem revirada em despedida - movendo-se velozmente sobre o abandono - enquanto ela e outros seguem os pontos de fuga - desenhados no céu para um novo sentido qualquer. O que importa é o movimento. O vento trazendo a certeza da distância, deslocando os olhos por uma nova natureza nativa, a vegetação revelando aos poucos sensações desgarradas da terra do clima da estação da despedida.
Mas como poderia partir? Com que passos? Júlia não era capaz nem de calçar os próprios sapatos sozinha. Onde encontraria músculos ossos pernas chão para seguir? De que adiantaria arquitetar novos sonhos se o corpo aprisionado jamais a levaria dali?
No amanhecer, no próximo trem, o primeiro. Como vencer os limites da inércia de sua própria matéria bruta? Henrique.. Henrique, querido.. É preciso seguir, nos devemos este último encontro. Eu preciso deixá-lo primeiro para depois partir. A minha alma é uma ferida alerta, tenho vestido-a no avesso da carne, na superfície mais que o fora. É preciso curar e seguir. Romper os pontos em um novo caminho para nunca mais sangrar.
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and it won't be long
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