segunda-feira, 8 de junho de 2009

o violoncelo e o poste que não sabia voar

Segui seu conselho e ía. Dirigindo com prudência. Apressando-me, lentamente. Segurei a razão entre os dentes e acabei errando no caminho de volta. Não deu outra: choquei abrupto num poste.
Em plena Avenida Principal.
Tudo se de(rre)tia em muralhas impenetráveis de aço e açafrão. Placas de sinalização botavam fogo no trânsito e só as crianças estavam libertas (elas corriam olhando sem atravessar a rua).
Quando comecei a escutar o violoncelo que tinha deixado tocando em casa, imaginei que era mesmo o sentido inverso a manchar minha visão de mundo.
Meu peito se desfez em cordas. Meu corpo enrijeceu-se num puro castanho cheirando a madeira. Por instantes, fiz-me em curvas de tocar.
Senti o concreto lambendo minhas últimas entranhas. O poste vencido, caído no asfalto de veneno e sangue, também mostrava suas vísceras em fios e gambiarras elétricas multi-midiáticas.
Em notas tortas, o cal sentenciou em braille: "seu eu-lírico suicidou-se".
Pro meu desespero, uma calma infinita silenciou meu grito.