Só no sono o caos,
e todos têm,
função social.
Ele seguiu adiante sem consultar a ninguém. E eu entendi tudo, sem sair do lugar, batucando nas teclas um “dom dim, dom drean, doro rorim do dom dom dom”. Entre a cuíca e o fone de ouvido, uma letra aguda latina me disse, “bora sambá na lama de sapato branco por aqui também”. Depois desse dia, meus pés pretos se casaram com a provocação e minhas pernas jamais desligaram a aflição do amor, feito de longe. 
Aconteceu perto de uma mistura de tempo e náusea, que escorria. Quase nem dez segundos depois, Vênus acenou aos berros da décima segunda casa dizendo preu olhar pra margem esquerda. Puta que pariu! Era o tal do preto e branco em cores. Mais algumas metades de paisagem, o Sol sai correndo e um silêncio de próteses rarefeitas afoga a insônia anestésica no torto da curva do rio Hudson.
Gatos são animais majestosos. Tenho gosto em apreciá-los com suas poses fotogênicas e flexibilidade plástica. Parecem saber de sua prodigiosa natureza e vivem a ‘brincar de esfinge’. Já perdi a conta de quantos criei. A opção de tê-los em casa sempre foi em comum acordo com meus familiares. Meus parentes felinos são como uma extensão familiar. Assim, a perda desses bichos de estimação, é dolorosa. Coquinho, por exemplo, entrou em minha casa há alguns anos. Já bem adulto. Surgiu no portão, chamei-o e ele veio se chegando com a docilidade dos siameses e seus olhos azuis. Não sei de onde veio. Apareceu e foi entrando. Ficando. Mostrando-se um bicho de boa índole sem radicalizar na questão da territorialidade. Impôs uma convivência perfeitamente pacífica com os outros felinos que já habitavam minha casa. “Será que é macho ou fêmea?”, indaguei-me quando chegou de mansinho. Olhei para suas partes recreativas e vi dois coquinhos. Ficou-lhe o nome na hora.
..o vermelho-veludo na parede brinca com os espelhos recortados.. as luzes espetam seu peito. Pela rua andava tranquila e abriu sóbria a porta. Jurava isso. Vestiu o ambiente trocando a pele que sorria rosada pelo olhar rubro e subterraneo da noite. Subtamente deitou-se no tempo que alí pulsava sem compasso. Deitou-se e abriu o corpo... mais forte do que toques e salivas que escorrem, olhares errados borram amores. Entre luzes, corpos e câmeras, que ensaivam ali uma representaçao mal feita de um jogo sedutor piegas, ela o via olhar o nada.. ele ensaiava uma conversa vazia ao lado.. com o corpo ao lado.. para o corpo ao lado. Vez ou outra voltava..um beijo, amor..
..vivendo a agonia da coisa mal dita pelos olhos, que erram, ela o golpeia no peito, agarra a bolsa negra e sai com o corpo atravessado por dores em longos raios finos. Pela mesma porta que entrara atravessa o veludo que chora.. antes sedutor, agora triste. E despida abisma-se em si mesma, e sucumbe.. e chove.
* Brigitte Bardot como Camille em Le Mépris, de Jean-Luc Godard.
