quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Suicidade

Ela acordou com os passantes trombando no seu assento. (barulho de batidas de carro, freadas bruscas, gritos, sirenes)
Acordou e não reconhecia a luz do dia daquele lugar. Olhou acima estava no 13B, corredor. Não sabia como estacionara ali, naquele ônibus de linha interior-capital falida.
O cobrador, percebendo o buraco em seu chão, tratou de escavar ainda mais. Disse: "ele desceu no km 52". Mas, pensara ela: "ele quem?"
Não tinha bolsa, não tinha um rg. Teria tido uma festa de 15 anos? (uma valsa)
Se apalpou. Tinha peito voluptoso. Seria depois de uma cirurgia?
O cobrador pediu que descesse. queria ver até onde ia aquela falta de história...
ela tropeçou na escadaria do ônibus. lá tbm tinha um buraco
bateu com a cara num sapato, um scarpin vermelho. ele a pisoteou. e saiu.
aquela pessoa só estava alí para pisá-la. não disse nada, mas a humilhou
depois disso, sentiu um tridente cortando lhe a pureza. era escala pro inferno. seu inferno particular.
sentiu um cheiro de perfume mediano. podia ser o dele. era lavanda. como odiava lavanda agora. o homem com seu cheiro lhe abandonara rumo ao fim da linha. talvez ele seria alguem lhe fazendo um favor, pra que ela recomeçasse uma vida nova. E um senhor que ia passando, cantava: "ele te queria para o mundo".
Então, ela fez aquilo que o seu corpo lhe pediu. se ofereceu numa esquina. para os carros, mas eles a transpassavam. e seu corpo ficava turvo e evaporava". nada ia ser mesmo fácil. saiu andando ao relento de um sol cortante. começava a lembrar...
lavava parabrisas de caminhões em posto beira-estrada e sujava a alma oferecendo um pacote maldito. a concorrência. era ela quem persuadia seus valores. ficaram caros e imorais.
em um desses favores, pediu passagem pra lugar algum. estava lá então.
bem lá perto da rodoviária, descobriu, tinha um viaduto bem alto que fazia corpos despencarem de uma distância bem grande e irem de encontro a carros em alta velocidade, sem tempo para pestanejar. Matavam mesmo.
a sua sorte foi estar perto dele. era tão sedentária, não aguentava andar muito. caminhou um pouco, pulou. e a partir dai, pulou pra sempre, morreu sempre.

2 comentários:

Sabrina disse...

meu leite derramou.

k . disse...

dizem até que a vida encolhe..