Perguntava-me qual era sua bravorigem. De que beco, rua ou prateleira você tinha nascido. O que mais carregava além dos colares bordados de promessas e macies de conceitos absolutos. Enquanto eu tentava descortinar o absurdo da sua sensatez, você continha-se, dentro de seus galhos, verdes. Mudo. De cima do muro olhava para o meu quintal como se fosse-mos seu. Mirando em calma e olhos amarelos minha solidão de pensamentos. Respondia minha incompletude de linhas com desenhos de nuvens de chuva no céu. Eu prestava atenção na paisagem auditiva pra me distrair. Você rajava na pele que o tempo passa e o espaço: diminuía. Virei a página do jornal, fingi que fugia o sol sobrepondo papel estampado de acontecimentos inventados sobre os olhos. Escondia-me de você. Perguntei-te se voltaria à montanha e você me disse sobre as fortes medicações. Como um trovão, perguntou-me se eu continuava “me jogando”. Respondi que em precipícios. Você deu seu primeiro sorriso e pediu para eu tirar meus óculos. Pediu para eu tirar qualquer pedaço de pano que pudesse me mascarar assobiando um “toque o mundo com a nudez que faz chorar e me fazer querer ser chuva”. Reconheci. Calei em silêncio profundo. Como quem espera o próximo vento para abraçar a si mesmo.Você me lembrou do nosso deitar na grama, da ânsia que nos fazia falar manhãs adentro, dos dias que alongavam-se em domingos e que tudo caía na nossa poesia diária. Contou-me que eu te contei que não gostava de usar batom. Disse que gostava da palidez de meus lábios sem embrulhos. [Aí] nossos litorais completaram-se: em um Belo Horizonte. Como quando nos encontramos pela primeira vez, saindo de nossas florestas. Como quando nos dilaceramos em verbos cítricos e madrugadas para explicar os motivos de nossa primeira presença ali.
Um comentário:
e quem há de dizer que não há poesia em tudo que ela diz?
Postar um comentário