terça-feira, 27 de novembro de 2007

Ela não sabia. Mas eu sabia que surrupiava entranhas em noites sem lua. Que comia uma por uma e depois chupava cada coágulo do dedo indicador direito. Aliás, era exatamente o mesmo dedo que usava para contar as estrelas, que não via. Até caminhava por cima das palavras, mas preferia números e espaços em branco. Gostava com gratidão do fosso entre os vocábulos. Lia só para sentir a dor da queda entre o verbo e o sujeito. Gozava álgebra quando alguém caía no buraco que cuspia com seus adjetivos."Êta moça porreta!", dizia dela o indizível. Para mim, era macomunada com o acaso.

* a propósito, ilustração "Saltembanques", de Georges Seurat.

4 comentários:

Iuri Gomes disse...

Mizifi, gente assim tem o diabo no corpo. Elogiar é um perigo! Esquece que é encosto dos brabo!

Anônimo disse...

/me chupando dedo em posição fetal.

Anônimo disse...

é gosto atrás de desgosto. na próxima quero nascer unha pra me perder pelos carpetes e quem sabe encontrar um pedaço de biscoito pra dividir o resto dos dias.

COA Car disse...

Imagina I.B. este encosto é dos bons...
palavras lunáticas
anárquicas farras de sentido
vãos dionisíacos
molhados à língua
desta boca que baba
nos seus substantivos.

beijo.

Claudio