De malícia e mentira, ele sabia até o refrão. Tipo alto, costeletas grisalhas e pés treinados para chegar onde tudo começa e acaba. Ficava sentado na praça vendo as fofocas passarem entre um assovio e outro minuciosamente entoados às moças que se entortavam para ver a fonte iluminada. Gostava das baixinhas peitudas. Dizia que era como voltar à infância, quando se embrenhava com as vizinhas imaginando as amigas da irmã mais velha.
No bolso direito da camisa estampada carregava os óculos escuros que jurava terem pertencido a Cartola. Puxava assunto com a mesa do lado, falava sem ser ouvido sobre o senado e futebol. Batucava com os pés um samba desconhecido qualquer e comentava nota por nota depois. Gostava da sensação de música saindo pela nuca.
Bebia devagar até quando o dinheiro dava. Depois, no segundo bloco da novela, despedia-se. No caminho de volta pensava
Naquela noite chegou em casa antes da Tela Quente e encontrou Noêmia aos prantos. Descabelada, a mulher só implorava por um feriado. Abraçados, um na ausência do outro, rezaram juntos depois que um engravatado familiar disse na televisão que Madeleine ainda não tinha sido encontrada.