quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Retórica

Um bloco. Um punhado de letras jogadas, abruptas e incansáveis.
Palavras se alimentando uma das outras, com força, com casca, com fome.
Ingeridas uma por uma e de uma vez só.
Com sal, pimenta do reino e adjetivos de ovos fritando.

Era gente e poesia em ebulição.

Composições primitivas brigando entre si e contra o calor sinestésico.

Mas naquele inverno já era quase noite.
E então ele molhou o indicador com pura saliva escovada na semana passada e apalpou vigorosamente cada linha de grafite.

Arrancou as vírgulas e os travessões.
Asfixiou as maiúsculas com o mesmo sopro que permutou reticências por espaços em branco.

Agora, era ele e a estória.
Ele, e suas células acentuadas.

Antes mesmo dos capítulos desfilarem abstinência circular, tentou vender três ilustrações por um ponto de exclamação.

Mas era quase dia, e as células estavam vivas.

Todas ali.

Flutuando no vinho tinto de mesa.


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Um comentário:

Anônimo disse...

bela tatuagem e o texto ainda mais belo.