sábado, 25 de abril de 2009

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Tuas letras lamberam minha nuca trazendo o arrepio de um medo anacrônico. Teus olhos carcomidos de desejo sustentavam um corpo magro e alto debaixo do teu cabelo ralo, se bem me lembro, frente a qualquer ruido de mim.

Teus acentos, há anos não os ouço. E por conta própria os mesclo em uma conversa que desconstruo tentando catar evidências e intenções que, penso, deviam estar por ali me espreitando por detrás de uma frase-gesto despercebida.

En verdad, não me atraíam, nem me importavam tuas achices ríspidas. Mas estranhamente me retive sempre ali te escutando, triangulando entre meu ego, tua fala e a imobilidade de minhas pernas.

Foi assim até aquele ponto de ônibus vazio de domingo. No cedo-quase-madrugada de uma manhã estranha em que ousei costurar, com as linhas da W3 norte, o alívio de teus passos que não caminharam em minha direção.

Retruquei com silêncio a tua ausência, na volta pra casa.

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