quinta-feira, 12 de junho de 2008

Namorar é preciso


Belíssimo dia pra se falar das coisas relacionadas ao amor neste estranho tempo onde só falta chover canivetes, tamanha a violência que rola por esta terra terrível, terrivelmente aterrorizada pelo sangue que jorra fácil e vermelho, sensacional. Um tom rubro que já foi mais afinado com a suave curvatura de um lábio pintado por um delicado batom. Bom dia, flor do dia.

Seja você homem ou mulher, anatomicamente falando e apenas isso. Fazendo questão de desconsiderar sua orientação sexual, lembre-se que hoje é dia dos namorados.

Dia de beijar. Dia de ser romântico, de falar de amor e, se possível, fazê-lo. Digo fazer, porque o amor é o tipo de coisa que não dá pra gente comprar feito. Coisa que mesmo quando a gente compra, como produto, ainda é preciso submetê-lo a um processo de acabamento, de finalização, pós-produção ou sei lá o que. Ele - o amor - não se encontra disponível pelas prateleiras de nenhuma loja. Tampouco tem preço, embora existam controvérsias. Bom, seja como for, o amor está por aí habitando corações e assediando pelas esquinas da vida e do corpo humano, demasiado humano.

Dia legal para gestos e rituais meigos, carinhosos. Afagos são tropeços bem vindos nesta data em que a rotina precisa ser quebrada pelas razões daquele lugar sem comportamento - o coração, segundo Manoel de Barros. Dia para deixar que o teu corpo se entenda com outro corpo, já que o entendimento entre as almas nem sempre é possível, conforme a Bandeira, o verso, de um outro Manuel. Putz, amor tem tudo a ver com poesia e desconfio que é por isso mesmo que dizem que poesia nunca foi coisa pra se entender, mas sim, pra se sentir. Muito prazer: sinto muito!


Mas, amor, hoje em dia, dizem, tem mais a ver com conta bancária graúda, do que com cabelos mais negros que as asas da graúna. Se há poesia suficiente no amor, em Pasárgada, certamente, existem prostitutas bonitas pra gente namorar que nos desejem e se prestem a ser nosso pão, nossa comida, todo amor que houver nessa vida, e algum remédio que me dê alegria.

Acho que ninguém entende perfeitamente das imperfeições desse sentimento que parece já ter estado mais nos corações do que na moda. Sei lá, mas acho que namorar - uma ação que advém do amor - nestes tempos, soa mais como uma cantata, uma fuga, uma coisinha mais rápida, mais passageira, e que não precisa ser pra sempre, embora seja massa que seja infinita enquanto dure. E sem essa de ser imortal, posto que é chama. Que invente ou inventem outros versos complementares os poetas da hora em que escrevo.

O dia 12 de junho passando e eu aqui a enfiar peido no cordão, a comentar sobre essa coisa que bate no coração e que traz toda a sorte de conseqüências. Na maior viagem. Por falar nisso, diz um ditado lá de Singapura: o amor é a refeição da vida, viajar é a sobremesa. Moral da história: dinheiro não traz felicidade, mas compra passagem. Falei sobre o amor, de passagem, mas não quis brincar com os sentimentos de nenhum João Ninguém que esteja apaixonado por uma Maria Vai Com as Outras.

Namorar, assim como amar, é uma questão de estilo. Já ouvi alguém dizer que a coisa mais importante que existe é saber ser amado e retribuir. Essa recíproca, por si só, já é um belo presente para este dia.

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