A Gente daqui dia desses brincou de greve de fome, de fome de guerra. Da janela do café ao lado do franco-alemão, no segundo piso, dava para sondar a situação antes de voltar pra rua. Ainda que criada no interior do MT em um tempo em que prefeito bebia e atirava pro alto na frente de casa, não sei distinguir um tiro de bala com um de foguete. Praça cheia de barracas, colchões, cartazes e gritos de ordem. ¡No tenemos miedo, carajo! Vôzinhos ambulantes vendedores de café lá embaixo brigando por troco. Rapazes de extrema direita com a bandeira do departamento, feito capa de herói, seguindo indiscretamente supostos-anônimos-perigosamente-parecidos-com-cubanos-de-mierda, crianças jogando uma pelada imaginária e batendo a bola na janela dos carros que mal estacionados são marcados pelo governo com uma tarja atravessada no vidro traseiro: INFRATOR! O tio cadeirante, que diariamente fica na porta da igreja esmolando os gringos que passam, amarrou ao lado seu potinho para os ouvidos protegerem dos estampidos... Assim essa gente com medo brincava de me assustar, de tão assustada que estava.
Vai ter balaço na sexta, não vai.
A praça tá perigosa, não tá.
Vão cortar a água, não vão.
Pode sair no sábado, não pode.
Tem que estocar comida, não tem.
Vai ter guerra civil, não vai.
Já tem milícia na rua, não tem.
Na parte cruceña do país do locoto um extremo era medo, o outro confiança e o grande meio, amorfo e faminto, indiferença. Disse-me um amigo, callejero como eu, nesse mesmo café na sexta passada, o que sentem eles, os indiferentes. Disse que com Evo ou não, com Tuto ou não, com constituição ou não, com autonomia ou não, com esquerda ou não, trabalharão hoje, comerão ontem e assim, correndo de gases, gozando nos lares e engolindo TV, viverão e morrerão inertes esperando.. esperando Godot. Conheço essa prosa. No começo das contas declararam-se autônomos. Sábado. Estatuto nas mãos. Parque cheio de músicas e danças e vírgulas e dúvidas... A gente, que é sem nome.. acho que zombam da gente, José... e agora cadê?
Vai ter balaço na sexta, não vai.
A praça tá perigosa, não tá.
Vão cortar a água, não vão.
Pode sair no sábado, não pode.
Tem que estocar comida, não tem.
Vai ter guerra civil, não vai.
Já tem milícia na rua, não tem.
Na parte cruceña do país do locoto um extremo era medo, o outro confiança e o grande meio, amorfo e faminto, indiferença. Disse-me um amigo, callejero como eu, nesse mesmo café na sexta passada, o que sentem eles, os indiferentes. Disse que com Evo ou não, com Tuto ou não, com constituição ou não, com autonomia ou não, com esquerda ou não, trabalharão hoje, comerão ontem e assim, correndo de gases, gozando nos lares e engolindo TV, viverão e morrerão inertes esperando.. esperando Godot. Conheço essa prosa. No começo das contas declararam-se autônomos. Sábado. Estatuto nas mãos. Parque cheio de músicas e danças e vírgulas e dúvidas... A gente, que é sem nome.. acho que zombam da gente, José... e agora cadê?
* Nota dos compañeiros de milongas: para quem não sabe, Cátia é uma dessas autênticas deusas do esquecimento. Migrou do Sul do Brasil até o interior do Mato na mesma rapidez que deixou Cuiabá pra estudar Relações Internacionais na UNB. Há alguns meses soubemos por carta escrita em braile que uma força não identificada havia usurpado seu corpo branco para as imediações de Santa Cruz de la Sierra.
6 comentários:
katy, diretamente boliviana, nosso posto avançado de la sierra... te cuida guria e que venga para nosotros en enero...
....gracias pelo til. Eu nao trouxe nenhum escondido na manga pra usar.
queria um encontro numa varanda qualquer
façamos
eu levo umas estórias pra contar e um vinho barato
me encargo das taças rotas e do disco furado da nina
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