meus olhos inchados, encharcados
das buzinas que cruzam a rua capital federal.
as costas doem como segredo sagrado
e os sapatos exaustos estão frouxos.
é manhã, a rua está tomada
meu corpo, por pouco descansar
é cada vez menos tronco
e cada vez mais membros
jogados pela estrada
toda segunda-feira.
ontem muitas pessoas falaram e a música também.
de canções inevitáveis de tão simples
e de tão nostálgicas
porque tudo parece caminhar pra findar
debaixo da mesma árvore,
anos atrás.
antes da alvorada e da desilusão e da mágoa
e de todos meus companheiros perdidos
na batalha branca dessa estrada periférica
escândalos generalizados, pouca roupa e carvão,
prisões, filhos, dependência crônica
um milhão de pedaços do fundo do mar
construindo tijolo por tijolo
debaixo da água turva de tão branca.
medicina veterinária, sonhos angelicais eu sinto
a sensação da redenção anos adelante
há de ser só o óbvio, transcrito na pele
da senhora de vestidos febris (fugas à noite).
gostaria eu,
poder domar o cavalo que vive perto do mirante
através das dimensões
atravessarmos o riso e o fardo de cada coisa
grão a grão
até que nada mais permaneça
entre vallegrand e eu.
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