quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Ela alongava as vogais das palavras só para esticar a doçura de seus verbetes. Seus braços negros de extremidades arredondadas eram capazes de amanhecer qualquer quente-sufoco-de-quarto-dos-fundos. Mãe Bida explicava seu nome dizendo que quando era criança-pequena era muito, muuuito: sabida.
Falava de tambores, leis, gente, moeda e manga-rosa com a mesma propriedade que colocava a água para ferver café sobre o fogão.
Sem mais nem porque, depois de uma quinta-feira dessas paridas antes da gestação, acordei com seu sotaque baiano sussurrando em meu pescoço cantigas pra lá de mar. Sua sombra jorrava por minhas veias como se tivéssemos ensaiado nossa pós-modernização. Olhou lânguido para a coreografia que meus cílios expressavam e assobiou com textura de renda alva: “Vamos ver, né, minha filha, o que o axé quer mostrar pra gente, né?”.
Despertei eletricidade, mas tarde demais. Quando tentei ser, Mãe Bida já havia desaparecido.

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