terça-feira, 1 de julho de 2008

Devaneios

Perambulava pela solidão, como quem deseja eternizar a efemeridade das lembranças angustiantes. Mortas, mas ainda mornas. Lamentos já não devolviam a dignidade dos sonhos, que um dia foram mais que alucinações. Só restaram desejos, mas fugazes demais, e livres de resistência, eles também quiseram partir.
Olhando para os respingos de sol que entravam pelas frestas da janela fechada e tocavam o teto sombreado, apenas um pensamento inevitável reluzia dentro do coração. Por que não está chovendo agora? As gotas de precipitação lembravam as lágrimas sempre precipitadas, e davam sentido àquela existência solitária. Não, não era trágico. Estava resignado a seu destino cintilante de uma realização sempre adiada. Seus devaneios tinham sentido.
Tentava ludibriar a si mesmo, mas no fundo sabia. No próximo minuto seu peito seria invadido mais uma vez pelo desespero da espera que nunca chega ao fim.

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